sexta-feira, 2 de setembro de 2011

LOYOLA, O JUIZ DA CREDIBILIDADE DO BC



No tal “mercado” existem dois personagens distintos: os economistas, que fazem apostas com cenários; e os tesoureiros, que fazem apostas com dinheiro. Os primeiros trabalham em um mundo imaginário, que pode ou não coincidir com o real; os segundos, com o mundo real, onde cada aposta errada significa perda direta.
Há dias os tesoureiros apostavam na queda das taxas de juros. Esse quadro era nítido nas últimas semanas com as quedas das taxas nos mercados futuros de juros. Esse movimento tornou-se mais forte depois da redução de meio ponto na Selic.
O terrorismo do mercado contra o BC não se prende a esse meio ponto de redução. É manobra preventiva, para evitar os cortes maiores que estão no horizonte. Uma vez perguntei a um desses economistas qual a razão de um tremendo barulho que havia feito em relação a uma decisão tímida do BC. Ele explicou: a porta começa a fecha e pode bater no meu dedo; antes de bater saio gritando.
Vamos à análise de algumas matérias que saíram hoje nos jornais, para identificar como se dá esse jogo terrorista.
Ex-presidente do BC, Gustavo Loyolla – no Estadão – aposta que a credibilidade do BC está em xeque (clique aqui). No início de 1995, houve uma corrida contra o real. O então presidente do BC Pérsio Arida chutou as taxas de juros para 45% ao ano. Em qualquer país civilizado, havendo corrida contra a moeda, elevam-se as taxas de juros. Passada a corrida, reduzem-se imediatamente para evitar impactos na dívida pública.
Pérsio caiu do BC e foi substituído por Loyola. A  partir daí a queda foi lentíssima e gradual sustentada em algumas declarações de senso comum que envergonhariam qualquer economista acadêmico sério: não poderia derrubar mais rapidamente os juros porque se tivesse que subir novamente pegaria mal, mostraria indecisão. Então a lógica seria subir de elevador e descer de escadas – imagem que usava no período. Quebrou o Estado brasileiro. O mal que causou as contas públicas emperrou quinze anos de crescimento do país. E esse bordão foi aceito acriticamente pela mídia (com algumas notáveis exceções) por refletia o senso comum criado para sustentar a excrescência dos juros altos. Loyola, aliás, gostava de se denominar de "jurista" - defensor dos juros altos em qualquer circunstância.
Não ficou nisso. Mais à frente, no seu trabalho de consultor, participamos juntos de um conjunto de palestras em Federações de Indústria de todo o país. Era outubro de 1998. O Brasil já tinha feito o acordo com o FMI e, mesmo assim, os dólares estavam em fuga do país. Em cada uma dessas palestras, Loyolla apresentava uma miríade de números e estatísticas (sem nenhuma correlação entre si) para dar ares científicos às suas conclusões. No final, era taxativo: "de acordo com nossas análises (da Tendências) no ano que vem o real irá se desvalorizar no máximo 6%".  Jogava com a vida de centenas de empresas representadas pelos empresários presentes.
Obrigava-me a um exercício danado para anular o conselho mortal. Abria minha palestra elogiando  o "brilhantismo" de Loyolla mas lembrava os empresários que era apenas uma opinião, que muitos outros analistas – entre os quais me incluía – apostavam que o câmbio não resistiria seis meses. Explodiu três meses depois. Uma semana antes da explosão do câmbio, Loyolla garantia na Globonews que não haveria mudanças cambiais. Os dois pequenos bancos que quebraram na virada do câmbio - um  dos quais era o Marka - eram seus clientes.
Pergunto: qual o currículo para se outorgar o papel de juiz da credibilidade do BC?

Nosso comentário : 90% dos economistas brasileiros criticavam a alta Taxa Selic, jogando no governo a responsabilidade. No momento em que o Banco Central, supostamente atendendo determinação da Presidente Dilma Roussef baixa em 0,5 pontos percentuais a Selic, vêem os mesmos economistas junto com a grande mídia condenar a iniciativa. Todos os brasileiros têm a convicção que os juros devem alcançar um digíto o mais rapidamente possível mas se sabe que existem outros componentes desta equação que devem ser considerados.
Vem a imprensa agora, como sempre, dizer que o Banco Central perdeu a autonomia e perguntamos: Que autonomia?
Se fazem de desentendidos, a economia é responsabilidade do Governo Federal, da Presidente Dilma Roussef, sobre quem recairá qualquer julgamento caso alguma coisa der errado.
Se a nomeação do Presidente do Banco Central é incumbência da Presidente da República se Tombini falhar será exonerado e pronto, pois possíveis insucessos, como dissemos, recairá sobre a Presidente da República. 

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