domingo, 19 de dezembro de 2010

CRÍTICAS E OMISSÕES VERGONHOSAS


"A CONSTRUÇÃO DO MITO LULA"

Sob este título o Globo de hoje faz uma análise da ERA LULA, cuja matéria ingenuamente tivemos a curiosidade de ler, nós que lemos o jornal todos os dias, imaginando que poderia ter alguma coisa de diferente daquilo que conteem as matérias de Merval, Sardenberg, Ilimar e Noblat e Ancelmo.
Não discordamos da crítica que avançamos pouco em educação, saúde, saneamento, etc. etc., mas avançamos.
A coluna Panorama Político diz "a imprensa nunca foi tão criticada como durante o mandato do Presidente Lula", mas podemos dizer que um Presidente nunca foi tão maltratado como Lula.
A matéria diz que os escândalos dos vampiros e sanguessugas foram mais fortes do que os projetos, mas omite que os dois casos atravessaram o governo FHC.
Sobre a CPMF fala que o Senado derrubou o tributo, mas omite o fato de que exigiam, para manter o imposto, que Lula se comprometesse a destinar toda a verba para a saúde. Quando Lula, ao ver que perderia no voto, aceitou a exigência, Pedro Simon foi para a tribuna e solicitou que a votação fosse adiada para o outro dia. A oposição não aceitou e promoveu a queda da CPMF.
"FOME ZERO VIROU BOLSA, SEM PORTA DE SAIDA", afirmativa que não procede, omite o fato de que os filhos destas famílias saem da pobreza, da miséria, com o estudo a que se submetem, obrigação que têm para permanecer no programa.
Sob o título "A ERA LULA EM DOZE TEMPOS", a matéria tece vários comentários nos quais só as Organizações Globo acreditam, o povo vê de outra forma.
"BINGO NO PLANALTO", acusa Waldomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu de extorquir um bicheiro para arrecadar fundos para o PT, mas omite irresponsavelmente o fato de que o vídeo e o ato aconteceram quando Waldomiro era assessor do governo Garotinho no Rio de Janeiro, que era do PMDB.
"A QUEDA DE DIRCEU". Quando estourou o escândalo nos Correios, cujo quadro funcional seria de responsabilidade de Roberto Jefferson, com um funcionário sendo filmado recebendo propina, o ex-deputado cassado, pensando que a investigação teria José Dirceu por detrás, acusou o PT, mas vendo que se dissesse que seria Caixa 2 não teria repercussão alguma, já que supostamente todos os partidos teriam, apelidou de "mensalão" para causar impacto, e a grande mídia, como sempre, absorveu a idéia que atendia às suas pretensões  de atacar Lula.
"DOSSIÊ DOS ALOPRADOS". O dossiê nunca foi dos aloprados, que supostamente desejavam comprar um dossiê no qual Serra estaria envolvido.
Para encerrar, lendo este caderno de "O Globo" parece até que os 87% que Lula tem de avaliação hoje é negativa, e nos faz ter a certeza de que a grande mídia deixou de ser formadora de opinião por falta de credibilidade, na realidade o "FORMADOR DE OPINIÃO SOMOS NÓS, POVO".
A grande imprensa escreve para ela mesma, só eles acreditam no que escrevem, precisam entender que a "BASE DA PIRÂMIDE" se move livremente, contrariamente ao que acontecia  em tempos idos.
Um abraço e FELIZ NATAL E ANO DE 2011.
 

DEVOLVE NÃO CHICO

Carlos Diegues, 16 dezembro 2010

Anoiteceu, o sino gemeu. Então eis aí o Natal, podemos ouvir de novo “War is Over”, de John Lennon, sem temer que nos chamem de piegas. E, como na canção, ainda podemos perguntar, agora que o ano se aproxima do fim, pelo que você tem feito na vida.
Eu queria que fosse tudo como está no ensaiozinho de Jorge de Lima, “Todos cantam sua terra”. O grande poeta afirma ali que o catolicismo é uma marca profunda na formação da cultura ibérica. Mas enquanto na Espanha se manifesta por excelência através da paixão de Cristo, em Portugal se funda no auto de seu nascimento. Entre o Cristo Crucificado e o Menino Jesus, herdamos o lirismo desse, exorcizando a tragédia irreparável daquele. Preferimos as expectativas da vida às dores da morte, mesmo que redentora.
Será verdade?
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O cineasta italiano Etore Scola me disse uma vez que era mais fácil entender a Itália do pós-guerra através das comédias de Steno, Risi ou Monicelli, do que por meio dos clássicos do neorealismo. Mario Monicelli, o autor de filmes extraordinários como “Os eternos desconhecidos”, “Os companheiros” ou “O exército Brancaleone”, matou-se recentemente, com pouco mais de 90 anos de idade, jogando-se da janela de um hospital onde se internara em estado terminal, com câncer na próstata.
Está aí alguém que, em seus filmes, sempre esteve do lado da vida. Monicelli era um humanista crítico que se divertia com a existência e a fragilidade dos seres humanos. Seus personagens, sempre cheios de projetos mirabolantes, nunca acreditam de verdade que sejam capazes de realizá-los e acabam mesmo fracassando. Mas o fracasso é a descoberta da vida de fato, aquela que passa a nosso lado enquanto fazemos planos (mais uma vez, Lennon). Ele não ria de seus personagens. Ria com eles. Da vida.
Amigos comuns me contam que, sabendo de seus tumores fatais, em acelerada metástase, Monicelli pedira que o deixassem morrer logo, para evitar maiores sofrimentos. Os médicos se recusaram a atendê-lo e ele decidiu pela eutanásia por conta própria. Detesto suicidas, não sou complacente com eles, não respeito gesto tão agressivo, não vejo grandeza nele. Mas no caso de Mario Monicelli, um artista iluminado, um grande cineasta que escondia seu pessimismo por trás da graça de um permanente sorriso de solidariedade, alguma coisa me diz que ele tinha esse direito.
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O pecado original talvez seja nosso irreprimível desejo de ordenar o mundo. Acho que foi a necessidade de sobrevivência em ambiente hostil que nos obrigou a isso. E nossa secular educação cartesiana, um desejo irracional de absoluta racionalidade, acabou por não nos permitir contemplar o duplo, aquilo que é e também o seu contrário.
Não só tememos a diferença, como também não conseguimos conviver pacificamente com o conflito. Diante do outro, nosso instinto é de tentar eliminá-lo, acabar com a perturbação que nos causa. Nesse mundo contemporâneo de espetáculo e exibição, o outro que nos perturba (a diferença) pode ser também o sucesso de alguém que nos obriga a pensar sobre o valor de nosso desempenho.
Podemos amar uma estrela consagrada como Chico Buarque, contanto que ele fique no seu lugar, produza sua grande arte muito longe do palco em que atuamos. Se resolver jogar futebol, os outros jogadores não podem reconhecê-lo como craque, seria demais para a  afirmação deles nas quatro linhas da vida. Assim como pode bater em nós uma certa sensação de fracasso pessoal ou de simples ameaça, quando vemos suas peças tão oportunas e lemos os belos romances que já escreveu.
Não sou do ramo. Mas se entendi bem, “Leite Derramado”, seu romance mais recente, ganhou o tradicional prêmio Jabuti de melhor livro do ano, mas perdeu o de melhor ficção para outro. Isso gerou revolta em alguns editores, escritores, jornalistas e intelectuais, que chegaram a pedir a Chico que devolvesse o prêmio.
Mas, pelo que li no jornal, tal premiação já ocorrera antes na história do Jabuti e ninguém nunca reclamou, porque não são os mesmos os jurados que outorgam os dois prêmios, uma decisão não tem nada a ver com a outra, sendo essa a regra do jogo desde sempre. Mais ou menos como no futebol, onde o Goiás disputou a final da Copa Sul-Americana, tendo sido rebaixado à segunda divisão do Brasileirão. Ou no cinema, quando diretores de filmes laureados como os melhores do Oscar e dos festivais são ignorados na premiação de sua categoria.
Por trás dessa aparente purgação de um erro, está na verdade a necessidade de punir quem nos humilha tanto com sua indiscutível grandeza. O outro, quando é exemplar, pode ser pior do que se fosse inimigo. E um Jabuti é pouco, o Brasil deve muito mais do que isso a Chico Buarque.
Devolve não, Chico.
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E já que estamos no espírito de Natal, filmando recentemente no Acre, o único estado do país que fez guerra para ser brasileiro, encontrei numa sala de aula de ensino fundamental, escrita no quadro negro, a seguinte citação de Nelson Mandela.
“Ninguém nasce odiando outras pessoas pela cor de sua pele, por sua origem, ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
Batem os sinos.
 
carlosdiegues@uol.com.br
 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

VÔO DA ÁGUIA


                                               
                                                                       Paulo Nogueira Batista Jr.

            Os últimos dados do PIB, divulgados há poucos dias pelo IBGE, confirmam que 2010 será um ano excepcional. A economia brasileira deve crescer entre 7,5% e 8% - ritmo que não se via desde 1986, época do Plano Cruzado.
            Poucos países se recuperaram tão rapidamente da crise internacional e poucos cresceram tanto em 2010. Entre os países do G-20, só China, Índia e talvez Argentina devem apresentar taxas de crescimento mais altas do que o Brasil.
            Com um crescimento tão robusto, o mercado de trabalho melhorou muito no país. A taxa média de desemprego caiu para 6% nas principais regiões metropolitanas, o nível mais baixo desde o início da série da pesquisa iniciada em 2002. Aumentou a proporção de empregados com carteira assinada. O nível de emprego formal vem crescendo ano a ano, de forma significativa. Nos doze meses acumulados até outubro, o emprego formal cresceu 5,5%.
            Nada mal para uma economia que parecia, há não muito tempo, condenada a um quadro de crescimento medíocre, incapaz de gerar empregos em quantidade e qualidade adequadas. Na década de 1990 e na primeira metade da atual, toda recuperação durava pouco. Era a síndrome do “vôo da galinha”.
            A expressão, muito difundida na imprensa, era profundamente humilhante. Comparado “urbi et orbi” a uma galinha, o brasileiro rilhava os dentes de frustração.
            Passou. Hoje, já podemos talvez arriscar: o vôo é de águia. Os estrangeiros, que não sofrem das nossas cautelas e inibições, tratam o Brasil de águia para cima. Aqui fora, a economia brasileira é um grande sucesso de público e bilheteria.     
            Mas, não vamos exagerar. A preocupação dominante no Brasil é a oposta. “Estamos crescendo demais”, sustentam alguns. “Isso terminará em lágrimas”, vaticinam outros. O Plano Cruzado, referido no primeiro parágrafo, é uma lembrança traumática – um exemplo de como o crescimento excessivo pode desaguar em inflação e desequilíbrios de balanço de pagamentos.
            Acredito, entretanto, que o Brasil aprendeu muito com o Cruzado e outros episódios. Ao longo de 2010, o governo tomou medidas para frear a demanda. Retirou estímulos introduzidos durante a crise e aumentou a taxa básica de juros. Agora em dezembro, O Banco Central decidiu aumentar os compulsórios bancários com a finalidade de conter a expansão do crédito. O novo governo anunciou também que fará cortes de gastos em todos os ministérios.
            As medidas de contenção anteriores já estão afetando o crescimento. O PIB do terceiro trimestre sofreu desaceleração apreciável. A indústria e a agropecuária apresentaram queda no trimestre em comparação com o trimestre anterior. Nos meses recentes, o grau de utilização da capacidade instalada na indústria tem ficado aproximadamente estável, com ligeira tendência de queda.  
            A desaceleração não chega a ser preocupante por enquanto. O ritmo do primeiro semestre (cerca de 8,5%) era provavelmente perigoso. Já estava tendo algum efeito sobre a inflação e as contas externas correntes.
            O desafio, como sempre, é equilibrar o crescimento com o controle da inflação e das contas externas. Esse é a primeira tarefa do novo governo em 2011. Manter a inflação e as contas externas em ordem, sim. Mas sem abortar o crescimento de que o país tanto precisa para continuar gerando empregos, reduzir a pobreza e superar o subdesenvolvimento. 
           
Publicado em “O Globo”, 11 de dezembro de 2010.

Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.

Twitter: @paulonbjr   

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DOS "ANOS DE CHUMBO" ATÉ DEMÉTRIO MAGNOLI...


Rio, 09/12/2010

Lendo matérias de Merval Pereira, Sardenberg e Demétrio Magnoli em "O Globo" de hoje, decidi fazer alguns comentários dedicados não só a estes, mas a Noblat e a grande imprensa manipuladora, indo dos "anos de chumbo" e Carlos Lacerda, passando por Leonel Brizola, General Figueiredo, Proconsult e Moreira Franco.
Entendo que os políticos de direita dos anos 1960 usaram o exército para dar o golpe de 1964, com o falso argumento de que o comunismo estaria tomando conta do Brasil, porque tinham que justificar. Como não tinham outro argumento usaram a "guerra fria" e conseguiram até o apoio dos EUA  para perpetuar o crime que atrasou o Brasil 50 anos.
Entendiam os políticos como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto que em seis mêses os militares fariam uma eleição e, com os políticos do antigo PTB cassados, elegeriam o Presidente da República. "Quebraram a cara" porque os militares resolveram ficar no poder.
Mas nesta época já se comentava o aumento significativo das moradias nos morros cariocas, favelas, e Lacerda e o poder dominante teria comentado "deixa eles crescerem depois vamos lá e derrubamos tudo".
Não foi o que aconteceu e as favelas cresceram com famílias pobres, de gente honesta e trabalhadora, que pouco a pouco foram sendo acompanhadas de traficantes e bandidos.
Demétrio Magnoli, com a "luminosidade" de quem defende os interesses do PIG, sempre, escreve hoje "um quarto de século atrás, Leonel Brizola abandonou as favelas do Rio ao crime organizado", em uma deslavada mentira, claro que apoiada na imprensa de direita que sempre combate quem pensa de forma diferente ao que eles apregoam.
Brizola não abandonou as favelas do Rio, apenas deu orientação para a Polícia Militar não arrebentar portas de casas de favelados à pontapés, sem acusação formal, depois de ter vencido a eleição contra Moreira Franco, que era apoiado pelo General Figueiredo e pelas organizações Globo, acusados de estarem juntos com a Proconsult em uma estratégia das mais vergonhosas, de roubar a eleição de Brizola.
Mas Moreira Franco, candidato pelo PDS, partido saído da Arena, partido da ditadura, ganhou a eleição de Darcy Ribeiro, que era o candidato de Brizola, prometendo acabar com a violência em seis mêses, o que não cumpriu em seu mandato de quatro anos.
Brizola voltou ao governo, mostrando em um dos seus programas na TV, uma edição da revista Veja que na capa dizia "o Rio não aguenta mais a violência", só que esta revista era de antes do ex-governador assumir, do final dos anos 70.
Portanto Demétrio, você deveria estar fora do País quando esta história aconteceu, na realidade.
Outra bobagem senhor Demétrio Magnoli, é dizer "o fracasso da convivência pacífica entre UPPs e tráfico levou Cabral ao confronto". Muito pelo contrário, o sucesso das UPPs é que fez os traficantes radicalizarem na violência, pela perda de espaço, atendendo equivocadamente o apelo dos bandidos presidiários, que os levaram a tomar atitudes que os prejudicaram ainda mais.
O equívoco foi atenderem a presidiários que já estão numa pior, não têm mais nada a perder, contrariamente aos traficantes da Vila Cruzeiro/Complexo do Alemão que sofreram o maior prejuízo jamais sentido por eles, com mais de 35 toneladas de maconha apreendidas, além de cocaína e armas.
Nós entendemos como a maioria das autoridades mundiais que a invasão do Iraque seria um tremendo êrro, como realmente foi, com Bush invadindo atrás do petróleo que não conseguiu, causando o maior prejuízo já sofrido pelos EUA, que vão pagar por muito tempo pelos êrros do pior Presidente da República que os Estados Unidos da América já tiveram.
Mas tem uma coisa, comparar o Iraque com o Rio de Janeiro é uma heresia completa, irracional senhor Demétrio.
Quanto ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg, é um dos que defendem o estado mínimo, e é daqueles que afirmam convictamente que "somos um País capitalista".
Mas que capitalismo é este que tem um dos salários mais baixos do mundo?
Capitalismo é o dos EUA, da Suécia, da França, da Alemanha, etc., onde os salários são elevados e as famílias não são  obrigadas a buscar na saúde pública, na educação de escolas publicas o socorro para poderem sobreviver, o que eleva os nossos tributos obrigatoriamente, o nosso "capitalismo" é selvagem e falso se comparado com países de primeiro mundo.
Quanto à questão da educação todo o Brasil sabe que é, também, uma das piores, mas faltou a grande mídia criticar nos tempos de FHC que era ridícula, se criticassem sempre, não só quando não apoiam governos, o Brasil estaria muito melhor, e a educação apesar das críticas, até que melhorou, mas uma melhora pífia, que não atende aos interesses maiores do País, que precisa "dar o salto" que só será possivel se ultrapassarmos esta barreira.
Estes comentários que fiz servem também para Noblat, que escreve nesta linha, de acordo com as orientações das organizações Globo, a que serve, e se assim não for, terá o destino de Maria Rita Kehl, demitida do Estadão por escrever uma matéria com a qual não concordaram (esta no meu blog).
Merval faz a defesa hoje do partido ao qual eu sugeri que assinasse a ficha partidária, o DEM, que só sabe defender a queda dos tributos, sem dizer de onde tirar os recursos que são utilizados para atender as populações carentes de nosso País.
Quando o PFL mudou de nome para DEM encaminhei email para o ex-prefeito Cesar Maia, dizendo que não adiantava mudar de nome, teria que mudar de atitude, defender toda a população brasileira e não só as elites. Não mudou, cai cada vez mais e continuará caindo, só existe no Rio de Janeiro por Cesar Maia, praticamente já destituiram Rodrigo Maia da presidência, não tem força maior e Kassab só não saiu ainda pelos impedimentos legais que podem fazer com que perca o mandato.

sábado, 4 de dezembro de 2010

DE QUEM SÃO OS RECURSOS

De Carlos Diegues – 3 dezembro 2010
Li artigo recente do presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema), Manoel Rangel, na “Folha de São Paulo”, em que, com toda razão e discernimento, ele afirma que “felizmente, hoje já está disseminada a compreensão de que qualquer país que deseje ter um futuro no cenário mundial deve ser um grande centro produtor de audiovisual (...) Não é por outro motivo que todos os países de economia avançada têm construído instrumentos de política pública para lidar com a importância econômica, simbólica e cidadã do mercado audiovisual”.
Mas logo sou informado de que, durante discussão sobre a renovação pelo Congresso do Artigo 1º da Lei do Audiovisual (artigo que autoriza o investimento privado em produção audiovisual, através de incentivos fiscais), Manoel Rangel teria afirmado que, se isso não acontecer, a atividade não será prejudicada, pois empresas como o BNDES já se comprometeram a aplicar os mesmos recursos, por meio de outros mecanismos.  Não sei que outros mecanismos são esses, mas sei que uma lei feita para ser cumprida é coisa muito mais republicana que compromissos difusos e, às vezes, pouco confiáveis.
Existe uma Medida Provisória, a MP 501, aprovada pelo presidente Lula, com apoio de todos os sindicatos e representações formais da atividade, que manda renovar esse Artigo 1º da Lei do Audiovisual, para que continue a haver investimentos privados no setor. Essa MP vai ser votada no Congresso nesta próxima semana e não é admissível que correligionários, aliados e colaboradores do governo a boicotem ou se mantenham neutros diante dela. Sobretudo porque a consequência imediata de sua rejeição será a paralização da atividade.
Por outro lado, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, um servidor público que, junto com Gilberto Gil, elevou o patamar de valor e respeito de seu ministério, vem repetindo declarações de que a política de financiamento da cultura deve ser revista. Em reunião recente do Conselho Superior de Cinema, ele teria afirmado, por exemplo, que os recursos de incentivos fiscais são “recursos públicos” e que "se uma empresa, por causa dos chamados custos operacionais, recebe mais de 100% de retorno sobre o que investe em projetos audiovisuais, não seria melhor transformar esses recursos em orçamento?”.
Não, ministro, não seria. Primeiro porque não é verdade que esses recursos sejam públicos, isso é uma superstição que nos foi politicamente imposta para nos culpabilizar e nos manter dependentes dos caprichos do governo, qualquer governo.
Os valores de incentivos fiscais são uma riqueza criada, em seu primeiro e original momento, pela iniciativa privada. Depois, parte dela é confiscada pelo estado, na forma de tributos. O mesmo estado que, num terceiro momento, devolve o que foi confiscado ao contribuinte responsável por sua produção, afim de que ele o invista na atividade escolhida. Tem sido assim na desoneração fiscal de automóveis e eletrodomésticos, em todas as iniciativas desse mesmo gênero, nesse mesmo governo. Por que não pode ser assim também na cultura, como aliás o é em tantos países pelo mundo afora? 
O que nos sugere o eventual fim dos incentivos fiscais é a velha fórmula de administração paternalista do estado, financiando obras através de seu orçamento e portanto selecionando aquelas que mais lhe convêm. Esse seria um salto para trás, um imenso recuo depois de tanto esforço de modernização dos mecanismos de financiamento da cultura e do cinema, um esforço que vem progredindo desde 1950, quando Alberto Cavalcanti voltou ao Brasil e nos ensinou o modo europeu de produção no pós-guerra. E não esqueçamos que o ministro da Cultura que criou e assinou a primeira lei de incentivos fiscais para a atividade foi nada mais, nada menos que Celso Furtado.
O ministério da Cultura e a Ancine têm seguido um rumo correto nos programas de salas populares de exibição e na busca de um espaço na televisão para o audiovisual brasileiro, como está na PLC 116, em discussão no Congresso. Ou como é o projeto do Vale Cultura, o mais eficiente e democrático modo de financiar o consumidor da atividade. Mas cadê o Vale Cultura? Por que não se luta por ele com o mesmo empenho com que se deseja acabar com a participação da iniciativa privada no cinema?
E esse recuo todo acontece num momento em que o cinema brasileiro produz quase 100 filmes por ano, estoura bilheterias com sucessos de vários gêneros, ocupa mais de 20% de seu próprio mercado, se impõe junto a críticos e festivais, revela inúmeros novos cineastas com novíssimas ideias como se viu nos festivais de Tiradentes e Brasília de 2010. Ou seja, num momento em que devíamos estar tratando de aprimorar o que levou tanto tempo para começar a dar certo.
Não sonho com uma Albânia do Sul para a cultura brasileira. O império do estado e sua burocratização na produção cultural do país seria a negação do processo de desenvolvimento em liberdade de suas indústrias criativas e de novas tecnologias convergentes que se multiplicam e que desejamos livres, leves e soltas. É sobre isso que devemos, agora, nos debruçar e nos empenhar. Engessar desde já esse futuro, domesticar sua luz selvagem com o bloqueio do estado único e unívoco, aquele que fatalmente exigirá o conteúdo que lhe for mais conveniente, é um grave crime contra a criatividade neste país.