quinta-feira, 28 de abril de 2011

BUUU PARA LULA

 

Do blog do Murilo

Quinta-feira, Abril 28, 2011

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Buuu


Buuu
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 28/04/11

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
– É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Esse caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior – tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria essa confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como se fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este
país. Viver no Brasil ficou insuportável.
– A nova classe média nos descaracterizou?
– Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...
– Buuu para o Lula, então?
– Buuu para o Lula!
– E buuu para o Fernando Henrique?
– Buuu para o... Como, “buuu para o Fernando Henrique”?!
– Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
– Sim. Não. Quer dizer...
– Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
– Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
– Por quê?
– Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
– Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
–Acho, mas...
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

domingo, 24 de abril de 2011

O QUE LULA HERDOU DE FHC

Atualizações do Blog do Joildo Santos

Link to Joildo Santos




Posted: 23 Apr 2011 11:07 AM PDT
Do Jornal Hora do Povoi 2952
Continuação da edição 2950, de 15 a 19 de abril
Esta última parte da condensação, feita por nós, de alguns trechos do livro “A Longa Agonia da Dependência”, de Nilson Araújo de Souza, é, sob qualquer ponto de vista, a mais importante.
Nela, o autor mostra, de forma vívida, como o governo Fernando Henrique, com sua submissão à matriz externa, quebrou o país já em 1998 – o FMI governaria o país pelo resto do seu segundo mandato.
Mais especificamente, é descrito o colapso do próprio Plano Real – baseado na hipervalorização da moeda em relação ao dólar para baratear as mercadorias importadas contra aquelas produzidas dentro do país. Hoje, alguns elementos remanescentes daquela época, agora na marginalidade política, e mesmo alguns que não fizeram parte do grupo palaciano fernandista – estes por ignorância ou ilusão – propalam esse plano como um sucesso espetacular. Não foi, nem poderia ter sido. Pelo contrário, foi um dos fracassos mais retumbantes da história do país, só comparável ao de Campos Sales nos primórdios da República.
Antes de tudo, o leitor poderá conhecer – ou rememorar – como a combinação (se é que podemos assim nos referir àquela devastação) de juros altíssimos, desnacionalização da economia, importacionismo desenfreado, remessas de lucros em crescendo vertiginoso, estagnação, recessão e destruição de elos decisivos da cadeia produtiva levou o país à catástrofe.
Que sucesso houve num “plano” que teve de ser abandonado quatro anos antes de acabar o governo que o patrocinou, substituído pela regência do FMI?
Os elementos que mencionamos citam o suposto controle da inflação como seu triunfo. Assim justificam a destruição do país. Como se, no limite, fosse um preço aceitável (ou até módico) acabar com o Brasil para controlar a inflação. Resta saber para quem serviria esse controle da inflação. Certamente que não para o povo brasileiro.
Entretanto, esse “controle da inflação” também não é verdade. Em 1999, a inflação estava outra vez fora de controle, apesar de todo o vandalismo econômico dos anos anteriores. E, em 2002, quando o presidente Lula venceu as eleições, a inflação, mais uma vez, subia o elevador.
Naturalmente, ao não atacar nenhuma causa da inflação e agravar todas as verdadeiras causas – dos juros altos à monopolização brutal da economia e à dependência externa – o desastrado “plano” só poderia conduzir a esse resultado. O importacionismo, a sobrevalorização do câmbio, os juros e a desnacionalização da economia podem – como foi o caso – num primeiro momento esconderem essa face de hidra. No entanto, mais cedo do que tarde, ela se desvelará.

(Carlos Lopes)
NILSON ARAÚJO DE SOUZA
Quando a crise tomou conta da Tailândia em julho de 1997, a economia brasileira já havia iniciado um forte processo de desaceleração. Até o setor da economia que, bafejado pelo crédito, vinha tendo comportamento positivo, o de bens duráveis de consumo, começou a derrapar desde maio daquele ano, levando a que suas vendas no comércio paulista tenham caído 5,9% no primeiro semestre. As vendas industriais das linhas brancas e de imagem e som caíram, respectivamente, 11,14% e 3,52% de abril para maio e mais 38% e 15% de maio para junho (sempre comparando com igual mês do ano anterior). O conjunto da indústria de eletroeletrônicos teve suas vendas diminuídas em 12,18% em junho sobre igual mês de 1996.
As vendas de máquinas e equipamentos caíram 4,92% no primeiro semestre. O faturamento do setor de bens de consumo caiu 3,49%. Na região metropolitana de São Paulo, a queda das vendas no comércio vinha ocorrendo sistematicamente desde maio e em constante agravamento: 2,9% em maio, 3,5% em junho e 11,2% em julho.
Com juros na faixa de 183% ao ano, ninguém conseguia pagar as prestações, e a inadimplência explodiu. Em julho, o Serviço de Proteção ao Crédito recebeu na capital paulista 314.670 registros de carnês em atraso, isto é, 75,5% mais do que em igual mês de 1996; segundo o Banco Central, nos consórcios de bens duráveis, havia um atraso inédito: 18,02% dos consorciados que receberam o bem estavam em atraso; de acordo com o índice Servloj, os atrasos na faixa de 30 dias estavam em torno de 30% das prestações vencidas.
Segundo a pesquisa SEADE/DIEESE, os trabalhadores que ganhavam menos tiveram uma queda de seu salário real de 15,6% nos primeiros sete meses do ano. A massa real de salários na indústria, de acordo com a pesquisa do IBGE, caiu 5,2% nos primeiros sete meses sobre igual período do ano anterior.
CONTAS EXTERNAS
Para agravar a situação, as contas externas deterioravam rapidamente. Se considerarmos apenas a balança de transações correntes, o déficit subiu de 2,5% do PIB em 1995 para 3,3% em 1996 e 4,19% nos 12 meses terminados em julho de 1997 e não baixou desse patamar até o final do ano; em números absolutos, mais do que dobrou do primeiro semestre de 1996 para o primeiro semestre de 1997.
Quanto à promessa de que o ingresso de capital estrangeiro aumentaria o investimento, já demonstramos que a forte aceleração da entrada de “investimento direto estrangeiro” nos dois primeiros anos de governo FH, em lugar de elevar a taxa de investimento da economia, a reduziu de 17,8% do PIB no final do governo Itamar para 16,1% em 1996.
Esses capitais vieram não para aumentar a capacidade produtiva da economia, mas para abocanhar o patrimônio nacional. E sobre a sua “vocação exportadora”, estudo feito por pesquisadores do Núcleo de Estudos da Indústria e da Tecnologia, do Instituto de Economia da Unicamp, revelou que a tendência do capital estrangeiro no Brasil era ocupar setores voltados para o mercado interno, e não para exportação, com destaque para os setores de serviços. Assim foi que, enquanto de seu estoque acumulado em 1989 71,1% se concentravam na indústria de transformação e só 23% no setor de serviços, em 1995 o peso da indústria diminuiu para 53,2% e o de serviços aumentou para 42,5%.
Além disso, estudo de uma entidade voltada para o acompanhamento das transnacionais no Brasil, a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), confirmou inteiramente a pesquisa da Unicamp. Havendo examinado 28 setores com participação estrangeira, concluiu que as sucursais das transnacionais aqui instaladas não tinham “vocação exportadora”. Em média, além de pequena, era declinante a participação das exportações em suas vendas: baixou de 11,34% em 1995 para 9,96% em 1996.
Um outro estudo, do Instituto de Economia da UNICAMP, com base nas 500 maiores empresas privadas estudadas por “Melhores e Maiores” da revista Exame, indicou que o coeficiente de exportação das empresas estrangeiras instaladas na indústria caiu de 13,9% em 1992 para 10,8% em 1997; se considerarmos apenas a indústria de transformação, a queda foi de 13,6% para 10,4%.
Em resumo, o capital estrangeiro estava vindo para cá não era para usar nosso território como plataforma de exportação, mas para ocupar o nosso poderoso mercado interno. E não poderia ser diferente. Com o câmbio sobrevalorizado, o que impunha um baixo nível de rentabilidade ao setor exportador, os cartéis estrangeiros teriam que deixar de ser cartéis – e até mesmo capitalistas – e transformar-se em Madre Teresa de Calcutá para interessar-se por esse setor. Além disso, em lugar de disputar com outros grupos monopolistas o mercado internacional, eles preferem, evidentemente, tentar destruir as mais débeis empresas dos países em desenvolvimento, como o Brasil, e ocupar seus espaços em nossos mercados internos.
Não se podia, portanto, esperar daí qualquer perspectiva de equacionar as nossas crescentemente deterioradas contas externas. Ao contrário, a tendência era agravá-las ainda mais.  Em primeiro lugar, porque o aumento da sua participação interna significava o crescimento brutal das remessas de lucros e dividendos para suas matrizes. Segundo dados do Banco Central, passaram da média anual de US$ 619,5 milhões no biênio 1991/92 para uma média de US$ 3,7 bilhões no primeiro biênio do governo FH (1995/96), ou seja, seis vezes mais. E, nos primeiros cinco meses de 1997, experimentaram novo salto: aumentaram 130% em relação a igual período do ano anterior, atingindo US$ 2,4 bilhões.
Em segundo lugar, a parcela do capital estrangeiro que tem avançado na indústria voltada para o mercado interno vinha, ao mesmo tempo, incrementando significativamente a demanda de equipamentos, peças e componentes importados. Ainda de acordo com o estudo dos pesquisadores da Unicamp, as importações desses setores cresciam muito mais rapidamente do que as importações totais. De 1995 para 1996, as importações de componentes eletrônicos cresceram 24,3%; partes e peças para veículos cresceram 22,6%; motores de pistão, 22,3%; computadores, partes e peças, 12,2%; circuitos integrados, 10,1%. Enquanto isso, as importações totais cresceram 6,8%. Ou seja, além de não possuir a tal “vocação exportadora”, o capital estrangeiro que chegava ao país pressionava as contas externas, ao intensificar a remessa de lucros e as importações. Na verdade, o que ele demonstrou foi uma “vocação importadora”.
Rapidamente, a realidade demonstrou que o argumento de que só teríamos problemas quando atingíssemos um rombo nas transações correntes de 7% do PIB não tinha sustentação nos fatos. Lembremo-nos de que os próprios membros da equipe econômica, no início do Plano Real, haviam dito que um índice acima de 3% podia significar a entrada numa zona de turbulência. Se usarmos o próprio critério deles (que só capta parte do problema), o rombo em 1997 foi de 4,16% do PIB. A realidade já nos havia mostrado que não precisava atingir essa cifra para espantar os capitais externos e, portanto, as reservas cambiais. Além disso, para usar o critério correto de déficit externo, é necessário somar a amortização de dívida externa ao déficit de transações correntes: por esse critério, atingimos 7,73% em 1997.
E, assim, a propaganda de que os capitais que fugissem da Ásia viriam para o Brasil, e, portanto, não enfrentaríamos problemas de financiamento do déficit externo, não tinha sustentação nos fatos. Ao contrário, houve uma maciça fuga de capitais do Brasil: de agosto a dezembro, perdemos US$ 10,9 bilhões das nossas reservas. E era óbvio que isso iria ocorrer: os especuladores internacionais, que sofreram fortes prejuízos na Ásia, começaram a desfazer-se de suas “posições” em países como o Brasil a fim de cobrir esses prejuízos.
JUROS
Diante desse quadro, o governo decidiu aplicar mais do mesmo veneno: dobraram a taxa básica de juros, aumentaram os impostos dos assalariados de classe média, cortaram os incentivos fiscais ao Nordeste, ceifaram os investimentos públicos e os gastos sociais, aprofundando a recessão e o desemprego. Cortaram gastos públicos e aumentaram impostos para garantir o pagamento dos juros que dobraram, e dobraram os juros para manter aqui os capitais especulativos que haviam começado a fugir. Transferiam ainda mais renda de toda a sociedade para os agiotas estrangeiros e aumentavam ainda mais a dependência da nossa economia em relação aos capitais vadios que circulam pelo mundo.
O resultado se fez sentir de imediato: a produção industrial do último trimestre do ano despencou 7,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior e estancou em relação a igual trimestre do ano anterior. A taxa de desemprego da Grande São Paulo, que fora de 14,9% em 1996, subiu para 15,7% em 1997, cifra inédita desde quando esse indicador começou a ser levantado pelo DIEESE/SEADE.
O déficit comercial cresceu de US$ 5,6 bilhões em 1996 para US$ 6,75 bilhões em 1997. O conjunto do déficit externo subiu de US$ 38,7 bilhões para US$ 62 bilhões. Pela primeira vez, o governo não conseguiu recursos externos suficientes para cobrir esse rombo. A soma do “investimento direto estrangeiro” com as aplicações em carteira, os financiamentos de importações e os empréstimos de longo prazo, descontados os capitais de curto prazo que se evadiram, deu um montante de US$ 54 bilhões. Os US$ 8 bilhões que faltaram foram pagos com nossas reservas, que, no conceito de liquidez internacional, baixaram de US$ 60 bilhões para US$ 52 bilhões.
Apesar de o capital estrangeiro ter feito a maior festa naquele ano com o patrimônio público nacional, não foi o suficiente para cobrir o rombo das contas externas. O chamado investimento direto havia aumentado de US$ 10,5 bilhões em 1996 para US$ 18,7 bilhões em 1997, quase dobrando pelo quarto ano seguido. Realizava-se, assim, um brutal processo de desnacionalização da economia brasileira.
O governo bancara o real com mais e mais dívida e, em grande medida, dívida com o capital especulativo. Mas esse endividamento doentio não tinha como continuar indefinidamente. E chegou a seu limite no primeiro semestre de 1998. Com as finanças do país literalmente quebradas, os especuladores aceleraram a debandada que haviam iniciado em maio. A primeira reação do governo, ainda em agosto, foi escancarar mais ainda nossa economia à sanha do capital especulativo internacional, ao reabrir suas aplicações de curto prazo e oferecer-lhe títulos com correção cambial.
Depois das crises de 1995 e de 1997, o que estava ocorrendo era o início do colapso do Real e, com ele, do conjunto do “Plano FH”.
Em setembro, [o governo] elevou a taxa básica de juros de 19,75% ao ano para 34,34% e decidiu cortar R$ 4 bilhões do orçamento ainda em 1998, além de prometer o aumento do superávit primário de R$ 4,3 bilhões para R$ 5 bilhões. E prosseguiu as negociações com o FMI. Não foi fácil conseguir a aprovação de um empréstimo de US$ 41 bilhões.
Mas a vulnerabilidade da economia era tão grande que nem a aprovação desse empréstimo, patrocinado pelo governo estadunidense, o FMI e o BIRD, conseguiu tranquilizar os especuladores, que seguiram levando seus dólares. Para tentar segurá-los aqui, o governo voltou a elevar, em outubro de 1998, a taxa básica de juros de 34,34% para 41,52%; com isso, a taxa de juros reais subiu de 16,3% em 1997 para uma média de 26,4% em 1998. E, como essa elevação dos juros promovia o aumento dos gastos financeiros do governo, este pretendia pagá-los metendo goela abaixo do país um pacote fiscal de elevação de impostos e corte dos gastos sociais. Para que esses novos recursos pudessem ser utilizados para pagar juros, tentou aumentar de 20% para 40% da receita a verba destinada ao Fundo de Estabilização Fiscal. Era um verdadeiro assalto aos Estados, municípios e fundos sociais, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e aos gastos com saúde e educação.
Eram visíveis os efeitos recessivos desse arrocho fiscal-monetário. De um lado, aumentava os custos das empresas graças à elevação dos juros e dos impostos; e, de outro, a demanda interna era comprimida pela retirada de dinheiro de circulação promovida pelo aumento dos impostos e pelo corte do gasto público. Como consequência dessas medidas, a lucratividade das empresas, que já era baixa, transformou-se em prejuízo. Nem as grandes empresas escaparam dessa camisa de ferro. O resultado não poderia ser outro senão a imediata redução da produção. A produção industrial caiu 6,66% já no último trimestre de 1998 em relação a igual trimestre do ano anterior e 10,44% em relação ao trimestre imediatamente anterior. O uso da capacidade instalada no último trimestre do ano caiu 3,5% e a formação bruta de capital fixo, 8,8%. Enquanto isso, o desemprego explodia: a taxa na Grande São Paulo subiu de 15,7% em 1997 para 18,2% em 1998.
No ano, o montante dos juros do conjunto da dívida pública atingiu R$ 72,6 bilhões em valores da época, contra R$ 44,9 bilhões em 1997, num aumento de 62%.
O objetivo do pacote-arrocho, ao conter o crescimento da economia, era também forçar a queda das importações a fim de tentar diminuir o rombo das contas externas. Mas, como o real estava supervalorizado em relação ao dólar, tornando as mercadorias estrangeiras mais baratas no país, a queda das importações foi irrisória: apenas 3,4%. O encarecimento do real também derrubou as exportações em 3,5%. O déficit externo total seguiu, portanto, em trajetória explosiva.
A partir de maio, quando começou a “fuga de capitais”, até dezembro, nossas reservas haviam diminuído em US$ 30 bilhões. Se não fosse a entrada em setembro de cerca de US$ 7 bilhões a título de adiantamento da “privatização” do Sistema Telebrás e a entrada em dezembro da primeira parcela do empréstimo do FMI/BIS, as reservas teriam caído US$ 46 bilhões.
COLAPSO
Quando FH tomou posse pela segunda vez, a 1º de janeiro de 1999, o real estava derretendo por dentro. Apesar da submissão ao FMI, da implementação do pacote-arrocho e da maior desnacionalização do patrimônio nacional de todos os tempos, os especuladores seguiram em debandada, levando consigo os dólares emprestados pelo FMI e o “lastro” da “âncora cambial” do real, isto é, as reservas em dólares. Se não tinham certeza, pelo menos intuíam que, enquanto persistisse a sobrevalorização do real, não se garantiriam os superávites comerciais necessários ao retorno da remuneração e ao “repatriamento” de seus capitais. O pacote-arrocho até poderia produzir o superávit primário necessário a que o governo pagasse parte dos juros da dívida pública, mas não era capaz de viabilizar o superávit comercial necessário para enviar esses recursos para fora do país.
Mesmo depois de haver entrado em dezembro de 1998 a primeira parcela do empréstimo do FMI/BIS, os especuladores seguiram em rota de fuga. Levaram US$ 5 bilhões das nossas reservas em dezembro e mais US$ 6 bilhões nas primeiras duas semanas de janeiro (US$ 8,4 bilhões ao longo do mês). Na verdade, os especuladores interpretaram corretamente que o aporte do FMI/BIS tinha o objetivo de garantir que eles levassem imediatamente seus recursos aplicados no país. E, de fato, o objetivo do FMI, ao aportar recursos a um país em dificuldades em suas contas externas, não é ajudar esse país, mas viabilizar as condições para que os financistas estrangeiros que aplicam seus recursos nesse país possam escapulir sãos e salvos.
A esse grau de vulnerabilidade nos havia levado a teimosia subserviente da equipe de FH, ao insistir na sobrevalorização artificial do real e, portanto, no importacionismo, no endividamento externo e na desnacionalização da nossa economia.
Sob o risco de ficar sem reservas cambiais e sem novos capitais externos para cobrir o rombo do importacionismo, soltou-se a “âncora” do real e este entrou em colapso. Sob a pressão dos especuladores estrangeiros, que se aproveitavam da fragilidade das contas externas e públicas do país, provocada pela política de sobrevalorização do real, não restou a FH outra alternativa senão liquidar sua criatura: o Plano Real. Desmoronava o mito da “moeda forte” tão propalado durante quatro anos e meio. Em face da política de “banda estreita” adotada desde a crise mexicana, o dólar já estava a R$ 1,2115. O BC então adotou a política de “banda larga”, autorizando o dólar a flutuar até R$ 1,32. Só que o BC implementou essa desvalorização do real pelo pior caminho: em lugar de fazê-lo sob controle governamental, entregou aos especuladores com moeda estrangeira a definição do valor da nossa moeda. Era esse o significado do chamado “câmbio flutuante”.
A especulação que daí surgiu levou, num primeiro momento, a um violento e desordenado processo de desvalorização da moeda nacional. Atropelado pelo “mercado”, o governo deixou-se submeter ainda mais aos especuladores: a 15 de janeiro, decidiu que o câmbio passaria a flutuar livremente, isto é, seria estabelecido ao sabor dos humores do capital especulativo.
Antes de seu enterro sem pompa nem vela, a sobrevalorização artificial do real, isto é, o Plano Real, já havia feito seu estrago: a dívida externa subira de US$ 145,7 bilhões no final de 1993 para US$ 241,6 bilhões em dezembro de 1998 para financiar o rombo externo; a dívida mobiliária federal subira de US$ 62 bilhões para US$ 319 bilhões em consequência da política de juros altos adotada para atrair os capitais externos necessários ao fechamento das contas externas; o conjunto da dívida líquida do setor público subira de R$ 153,45 bilhões no começo do governo FH (janeiro de 1995) para R$ 479,09 bilhões em janeiro de 1999, subindo de 29,35% do PIB para 50,49%; o patrimônio público havia sido torrado na bacia das almas; o capital estrangeiro abocanhara o que havia de mais expressivo na economia nacional, num inédito e brutal processo de desnacionalização: a participação das empresas estrangeiras nas vendas das 500 maiores empresas privadas e 50 maiores estatais instaladas no país aumentara de 32% em 1994 para 43,5% em 1998, enquanto o passivo externo bruto crescera de US$ 220 bilhões em dezembro de 1995 para US$ 332 bilhões em dezembro de 1998; importantes setores industriais haviam sido dizimados ou sucateados, como a indústria de bens de capital, informática, telecomunicações, eletrônicos de consumo, componentes, autopeças, várias especialidades na área química e farmacêutica; o emprego industrial em São Paulo havia sido ceifado em 25%, fazendo com que, na época da desvalorização, a taxa de desemprego na Grande São Paulo atingisse inéditos 20% da força de trabalho.
Era essa a “estabilidade” alardeada por FH.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

MAIS UMA VERGONHA DE NOSSA (IN) JUSTIÇA

COPIADO DO BLOG DE NOSSO AMIGO ZENO OTTO 

e-mail
O médico Roger Abdelmassih, de 67 anos, já está no Líbano, segundo a Folha. E por lá deve ficar porque tem origem libanesa e o Brasil não tem tratado de extradição com o Líbano. E isso poderia ter sido evitado, caso o ministro Gilmar Mendes não concedesse o habeas corpus que o tirou da cadeia.Imagem Activa
O médico estava preso, aguardando recurso de sua defesa diante da sentença que o condenou a 278 anos de cadeia por violentar 37 mulheres (suas pacientes, o que agrava os crimes) entre 1995 e 2008. E aguardava preso porque a Polícia Federal informou que ele tentava renovar seu passaporte. A juíza Kenarik Boujikian Felippe determinou que ele fosse preso para evitar sua fuga do país.
Seu advogado recorreu. Disse que Roger Abdelmassih não pretendia fugir do país, só estaria renovando o passaporte... 
Sem ao menos perguntar ao advogado por que um homem de 67 anos condenado a 278 anos de cadeia renovaria o passaporte (seria um novo Matusalém?), Gilmar Mendes mandou soltar o passarinho, que agora vai passear sua impunidade no exterior, até que a morte o separe da boa vida.
Por essas e outras, crimes contra as mulheres acontecem diariamente no país. Há o caso notório do jornalista Pimenta Neves, que matou fria e covardemente sua ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide, e passeia sua impunidade, após ter destruído as vidas de Sandra e de sua família. 
O que dirá Gilmar Mendes, o Simão Bacamarte do Judiciário, sobre seu habeas corpus que possibilitou a fuga do criminoso?
Sr.Com: Quando vamos ter um sistema judiciário. útil, honesto, competente e justo para todos os brasileiros?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As vergonhas que temos


Autor(es): Cristovam Buarque
O Globo - 09/04/2011

No século XIX, Victor Hugo se negou a apertar a mão de D. Pedro II, porque era o Imperador de um país que convivia naturalmente com a escravidão. Hoje, Victor Hugo não apertaria a mão de um brasileiro para parabenizá-lo pela conquista da 7ª posição entre as potências econômicas mundiais, convivendo com total naturalidade com a tragédia social ao redor. Estamos à frente de todos os países do mundo, menos seis deles, no valor da nossa produção, mas não nos preocupamos por estarmos, segundo a Unesco, em 88º lugar em educação.

Somos o sétimo no valor do PIB, mas ignoramos que, segundo o FMI, somos o 55º país no valor de renda per capita, fazendo com que sejamos uma potência habitada por pobres. Mais grave: não vemos que, segundo o Banco Mundial, somos o 8º pior país do mundo em termos de concentração de renda, melhor apenas do que Guatemala, Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.
Somos a sétima economia do mundo, mas de acordo com a Transparência Internacional estamos em 69º lugar na ordem dos países com ética na política por causa da corrupção. A nota ideal é 10, o Brasil tem nota 3,7.
Somos a sétima potência em produção, mas, quando olhamos o perfil da produção, constatamos que há décadas exportamos quase o mesmo tipo de bens e continuamos importando os produtos modernos da ciência e da tecnologia. Somos um dos maiores produtores de automóveis e temos uma das maiores populações de flanelinhas fora da escola.
Um relatório da Unesco divulgado em março mostra que a maioria dos adultos analfabetos vive em apenas dez países. O Brasil é um deles, com 14 milhões; com o agravante de que, no Brasil, eles nem ao menos reconhecem a própria bandeira. De 1889 até hoje, chegamos à sétima posição mundial na economia, mas temos quase três vezes mais brasileiros adultos iletrados do que tínhamos naquele ano; além de 30 a 40 milhões de analfabetos funcionais. Somos a sétima economia e não temos um único Prêmio Nobel.
Segundo um estudo da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que pesquisou 46 países, o Brasil fica em último lugar em percentagem de jovens terminando o ensino médio. Estamos ainda piores quando levamos em conta a qualificação necessária para enfrentar os desafios do século XXI. Segundo a OIT, a remuneração de nossos professores está atrás de países como México, Portugal, Itália, Polônia, Lituânia, Letônia, Filipinas; a formação e a dedicação deles provavelmente em posição ainda mais desfavorável, por causa da péssima qualidade das escolas onde são obrigados a lecionar. Somos a 7ª potência econômica, mas a permanência de nossas crianças na escola, em horas por dia, dias por ano e anos por vida está entre as piores de todo o mundo. Além de que temos, certamente, a maior desigualdade na formação de cada pessoa, conforme a renda de seus pais. Os brasileiros dos 10% mais ricos recebem investimento educacional cerca de 20 vezes maior do que os 10% mais pobres.
Somos a sétima potência, mas temos doenças como a dengue, a malária, o mal de Chagas e leishmaniose. Temos 22% de nossa população sem água encanada e mais da metade sem serviço de saneamento. Segundo o IBGE, 43% dos domicílios brasileiros, 25 milhões, não são considerados adequados para moradia; não têm simultaneamente abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo.
Esta dicotomia entre uma das economias mais ricas do mundo e um mundo social entre os mais pobres só se explica porque nosso projeto de nação é sem lógica, sem previsão e sem ética. Sem lógica, porque não percebemos que "país rico é país sem pobreza", como diz a presidenta Dilma. Sem previsão, por não percebermos a grande, mas atrasada, economia que temos, incapaz de seguir em frente na concorrência com a economia do conhecimento que está implantada em países com menor riqueza e mais futuro. E sem ética, porque comemoramos a posição na economia esquecendo as vergonhas que temos no social.
CRISTOVAM BUARQUE é senador (PDT-DF).

terça-feira, 12 de abril de 2011

ALHOS E BUGALHOS/FHC/AÉCIO/KASSAB/GIL etc


 Comentando a matéria do economista Doutor Gil Castelo Branco em "O Globo" de hoje.
 Doutor Gil!
O nobre economista andou viajando pelos últimos anos?
Sim, porque falar das heranças de Sarney, Collor e FHC e perguntar o que Lula deixou para Dilma só pode significar que esta por fora do que aconteceu no Brasil nos últimos anos.
Lula assumiu o governo após FHC ter sido obrigado a tomar um empréstimo de $ 4 bilhões de dólares do FMI para evitar que o País quebrasse.
Esta certo que todos os governos dos quais o Doutor falou deixaram alguma coisa, mas algumas coisas negativas também, e muitas, mas não vamos comentar o passado mais remoto.
Lula pagou o FMI, criou mais de 15 milhões de empregos através de medidas como o incentivo aos estaleiros para que o Brasil fabricasse os navios aqui em vez de comprar lá fora, criando empregos em outros países; nossas plataformas para prospecção de petróleo também começaram a ser construidas no Brasil; tirou mais de 20 milhões de pessoas da pobreza, que viviam miseravelmente, passando fome; colocou o Brasil entre as maiores economias do mundo, é respeitado como nunca lá fora; criou o Crédito Consignado que impediu que os bancos continuassem explorando os aposentados com juros extorsivos de 10/15%; o Brasil foi o último país a entrar na crise de 2008 e o primeiro a sair, pelas atitudes positivas de Lula que isentou a "linha branca" de impostos, diminuiu o IPI dos carros; pediu aos empresários que não demitissem e instruiu ao Banco do Brasil, Caixa Economica Federal e BNDES que não diminuissem a oferta de crédito.
Uma das maiores provas do sucesso de nosso Presidente Lula é o fato de estar sendo chamado lá fora para dar palestras; recebeu o titulo de "Doutor Honoris Causa" da Universidade de Viçosa; recebeu título em Portugal; deixou o Brasil com uma performance tão positiva que Dilma foi à China e vendeu, para começo de conversa, 450 aviões da categoria "Legacy", a serem construidos lá.
Portanto meu caro Gil Castelo Branco, é muito ou quer mais?

CRITICAS DA OPOSIÇÃO AO GOVERNO

Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves chegaram à conclusão de as críticas ao governo devem ser mais leves. No Congresso, principalmente no Senado onde assistimos diversas sessões através da TV, a oposição fez um ataque raivoso, e aqueles mais contundentes como Arthur Virgilio, Tasso Jereissati, Mão Santa, Heráclito Fortes não conseguiram se reeleger. Álvaro Dias se disputasse as últimas eleições provavelmente seguiria o mesmo caminho.
A crítica é necessária e positiva quando é para melhorar, mas "oposição raivosa" não dá certo.
Ouvi o Senador Aécio Neves dizer, após um momento de críticas pesadas da oposição "não sou daqueles que acham que todas as pessoas dos outros partidos não prestam e as de meu partido são perfeitas, tem pessoas boas e não tão boas em todos os partidos", naturalmente que não nestas palavras, mas foi o que desejou expressar.
A crítica, quando comedida é melhor aceita pela população, agressiva perde a razão.

MARINA SILVA
A ex-senadora Marina Silva, em matéria de ontem no Ig ou Yahoo declarou que não estaria satisfeita com os rumos do PV.
O PV como partido de esquerda só existe pela figura da ex-candidata, realmente que merece o nosso maior respeito.
O PV de São Paulo, cuja maioria da cúpula é funcionária do Estado, do PSDB de Alkmin, e da Prefeitura, do DEM de Kassab, e o do Rio, que coligou com o PSDB para a candidatura de Gabeira jogaram Marina para cima do muro e eles apoiaram Serra.

PSD DE KASSAB
Alguém acredita que o PSD recém saindo do DEM vai mudar de pensamento? Só vai mudar o nome, jamais de atitude, assim como foi o PFL ao mudar para DEM.

ROBERTO FREIRE E O PPS

Roberto Freire não se elegeria para nada em Pernambuco onde cansaram de seus falsos discursos. Transferiu-se para São Paulo atrás de cargos na Prefeitura e no Governo do Estado e jogou a ideologia tão defendida por Marcos Freire (este sim um grande homem) no lixo.
 

domingo, 10 de abril de 2011

Matéria de Cacá Diegues (ÓTIMA)

O Horror da Diferença
8 de abril de 2011
Como ele está morto e nunca em vida conversou com alguém sobre o assunto, jamais saberemos os motivos e as circunstâncias psíquicas que fizeram com que o rapaz entrasse na escola de Realengo e praticasse aquele massacre de crianças. Todos temos o direito de fazer suposições, mas jamais conheceremos a verdade, é inútil insistir.
Talvez nos reste apenas tirar das circunstâncias da tragédia algum ensinamento, seguindo umas poucas pistas a nosso dispor. A mais importante delas está certamente na carta deixada pelo assassino, um pouco subestimada pelo que andei lendo nos jornais.
Ali está, antes de tudo (ou “primeiramente”, como o autor a inicia), uma ostensiva divisão do mundo entre os “puros” e os “impuros”, não podendo esses nem ao menos tocar em seu corpo. Mais do que fazendo uma declaração religiosa fundamentalista, Wellington está assim se referindo à incompatibilidade entre ele e os outros, sendo esses os que não merecem viver no mesmo mundo que ele.
Talvez estivesse até dividido entre esse “eu” e “o outro”, sendo ele mesmo as duas coisas. Wellington atirou de preferência em meninas, como se estivesse eliminando preferencialmente o desejo que o tornava “impuro”. Ou seja, que o tornava “o outro”. Mas isso, mais uma vez, é apenas uma suposição.
Como também poderia estar se vingando do que outras crianças podem ter feito com ele no passado, nas mesmas salas de aula em que perseguiu suas vítimas. Alguns relatos dizem que Wellington teria sido alvo de bullying (será que o verbo “bolinar” é um anglicismo decorrente de “bullying” ou os dois vocábulos têm igual raiz latina?), quando estudou naquela mesma escola dos 11 aos 14 anos de idade e era conhecido como Sherman (referência ao nerd de “American Pie”) ou Suingue (por mancar de uma perna).
O que é evidente, a partir das poucas pistas deixadas, é que a tragédia na escola de Realengo está repleta, por todos os lados, de graves e clássicos sintomas de intolerância, uma incapacidade de suportar a diferença, um horror dela que nos impede de viver em paz com o outro.
Nesta mesma semana em que Wellington invadiu a escola atirando em crianças, uma menina chamada Adriele, de 16 anos, foi assassinada no interior do Mato Grosso do Sul por dois rapazes que não se conformavam com o romance dela com a irmã deles. Na semana anterior, Michael, da equipe do Vôlei Futuro, era objeto de brutal manifestação coletiva de homofobia, num ginásio de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, por ter-se declarado homossexual. Uma tradição de nosso esporte: há cerca de 10 anos, o jogador Lilico já tinha sido excluido da seleção brasileira de vôlei pela mesma razão.
Por esses mesmos dias, o deputado Jair Bolsonaro falava na televisão da “promiscuidade” que não permitia a seus filhos, a de se relacionar com uma mulher negra como Preta Gil. Assim como um pastor evangélico afirmava, em sua pregação religiosa, que os africanos eram fatalmente herdeiros de maldição lançada por Noé, em nome de Deus, logo depois do dilúvio.
Um pouco mais longe de nós, outro religioso, dessa vez na Flórida, queimava em público um exemplar do Alcorão, o livro sagrado dos islamistas. O que provocou, em represália, o assassinato de dezenas de pessoas no Afeganistão, vítimas de homens-bomba.
Se o culpado for sempre o outro, se o mundo estiver dividido sempre entre os puros e os impuros, não evitaremos nunca novos Wellington, nem que toda a polícia do país passe a trabalhar exclusivamente na porta de nossas escolas. A resistência à diferença, o horror a ela, sempre foi causa ou pretexto de todos os genocídios na história da humanidade.
Às vezes, ela se disfarça sofisticadamente em ideologia ou visão de mundo, com teorias cheias de argumentos. Como no nazi-fascismo de Hitler, Mussolini, Pinochet e tantos outros; ou no comunismo de Stalin, Mao, Pol-Pot e tantos outros. Mas, no fundo, todas essas formas de autoritarismo que encharcaram o século 20 de sangue partiram sempre da ideia de rejeição da diferença, por medo ou ignorância, por má ciência ou simples superstição.
Um certo cinema, sobretudo o norte-americano de ação, nos encheu e ainda nos enche a cabeça de estímulos a esse combate à diferença. As batalhas intergaláticas de humanos decentes contra alienígenas do mal apenas substituem a incompatibilidade clássica entre o branco civilizador e o indígena selvagem do Velho Oeste, sucedendo aos épicos de guerra contra os insensíveis amarelos do Sudeste Asiático e os pérfidos árabes do Oriente Médio. 
Neste sentido, um filme como “E.T.”, de 1982, fez mais pela democracia americana do que muito discurso de liberais locais. No filme de Steven Spielberg, a amizade entre a menina interpretada por Drew Barrymore e o extra-terrestre monstruoso, perseguidos pelas máscaras e tubos higienicamente brancos dos eugenistas  comandados por Pete Coyote, era uma perfeita metáfora do que poderia ser o mundo sem o medo do outro.
Ninguém nasce racista ou homofóbico, ninguém nasce com preconceito algum. A educação que recebemos ao longo de nossos primeiros anos de vida é que nos torna assim ou assado. E isso é portanto uma responsabilidade de todos, da sociedade onde vivemos e no seio da qual seremos preparados para a vida. 

Não adianta usarmos a fechadura mais rigorosa das leis contra o racismo e a homofobia, enquanto deixarmos prevalecer entre nós o horror da diferença. A intolerância vai sempre acabar entrando pelas frestas de portas e janelas de nossa vida social, como entrou na escola de Realengo.


carlosdiegues@uol.com.br


terça-feira, 5 de abril de 2011

INSTITUTO NACIONAL DE SURDOS

Mais uma vez o governo resolve modificar critérios de acordo com seus interesses, sem que se entenda os motivos.
O Ministro Fernando Haddad recomendou, em resolução de 2010, o fechamento do INES, com a transferência dos deficientes auditivos para escolas regulares.


Nos anos 80 e 90, com a responsabilidade de coordenar a administração do Estado do Rio de Janeiro na área de Pessoas com Necessidades Especiais já iniciamos, junto com a Secretaria de Educação Especial o projeto para permitir que as pessoas nesta situação fossem sendo transferidas para as escolas regulares.
Mas impedimos, com o respaldo da saudosa Dona Neusa Brizola, já naquela época, o fechamento da Escola Caluste Gulbenkian, que atendia pessoas com Paralisia Cerebral leves, que pretendia fechar a escola com o compromisso de criar uma situação que os recolocasse em outras escolas.
Nos reunimos com a direção da escola e foi determinado que a escola primeiro resolveria o problema do local para onde estes alunos seriam transferidos, após termos sido procurados pelos pais das mesmas.
Juntamente com a Educação Especial do Estado do Rio de Janeiro, chegamos à conclusão de  que haveria a necessidade de qualificar os professores com conhecimentos, que conhecessem por exemplo a linguagem dos sinais e outros requisitos básicos para atender a todas as categorias de pessoas com deficiência, com um acompanhamento suplementar para fazer com que pudessem estar com o aprendizado o mais perto possível dos alunos ditos como normais.
Pelo que sabemos, os recursos pedagógicos não foram alterados até agora para qualificar o maior número de professores possível para colocar em prática o projeto e o Ministro planeja iniciar o processo pelo lado equivocado, primeiro transferindo e depois resolvendo a questão de uma educação de qualidade.
A nossa luta, como tem sido sempre, avançou muito pouco, mas medidas como esta do Ministério da Educação devem receber a repulsa da população brasileira, para que não seja cometida mais uma injustíça contra as Pessoas com Necessidades Especiais, já tão penalisadas

segunda-feira, 4 de abril de 2011

RELATÓRIO DA POLICIA FEDERAL SOBRE O MENSALÃO

Os destaques do relatório da Polícia Federal, relatados em "O Globo" de hoje:
"MENSALÃO : Relatório da Polícia Federal afirma que dinheiro público foi usado para abastecer o valerioduto, esquema coordenado por Marcos Valério para pagar propinas a parlamentares da base do governo. A principal fonte seria o Fundo Visanet, que era utilizado pelo Banco do Brasil para pagar despesas de publicidade.
FREUD GODOY : O ex-segurança pessoal de Lula confirmou em depoimento à PF que recebeu R$ 98 mil da SMP&B em janeiro de 2003 como pagamento de parte da dívida de R$ 115 mil que o PT teria com ele por ter trabalhado na campanha do ex-presidente em 2002.
FERNANDO PIMENTEL : PF relata que Rodrigo Fernandes, tesoureiro da campanha de Pimentel à prefeitura de Belo Horizonte em 2004, teria recebido R$ 247 mil naquele ano da SMP&B. O tesoureiro se negou a dae explicações à PF. Fernando Pimentel sustentou que suas contas de campanha foram aprovadas pelo TRE.
ROMERO JUCÁ : Segundo a PF, dinheiro do Fundo Visanet teria sido repassado à empresa DNA, de Marcos Valério, e de lá para a Alfândega Participações, de propriedade de Álvaro Jucá, irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado. Foram R$ 630 mil, e a PF não ficou satisfeita com explicações dadas pela empresa para comprovar aplicação dos recursos. O Senador diz que não tem envolvimento com o caso.
VICENTINHO : O produtor Nélio José Batista Costa recebeu R$ 17 mil de firma de Valério para trabalhar na campanha do deputado federal Vicentinho (PT-SP) à prefeitura de São Bernardo em 2004."
Se o chamado "mensalão" teria sido criado para "comprar" deputados e senadores, para que votassem de acordo com o governo, porque este relatório cita estes, porque foram pagos valores para favorecidos que não eram nem deputados nem senadores? Por isto, para nós foi Caixa 2, simplesmente.

1 - Acrescentamos a esta matéria do Globo o recebimento de R$ 1 milhão pela Coteminas que não teria sido contabilizado pelo PT, valor que estaria contabilizado na conta da emprêsa conforme informação prestada pelo saudoso ex-Presidente da República José Alencar, portanto, responsabilidade do PT, se uma emprêsa dá um recibo de recebimento e junta este e o recibo do depósito com os documentos de movimentação financeira mas quem pagou joga no lixo o recibo da emprêsa, não é esta que tem que justificar. E
2 - O caso de Minas Gerais, do candidato a governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), acusado de envolvimento com Marcos Valério, não se poderia jamais caracterizar como "mensalão", já que perdeu a eleição e não teria que pagar ninguém para aprovar projetos e
3 - O caso de Arruda (DEM-DF), em que o governador aparece recebendo valores supostamente repassados por empresas que prestavam servíço ao governo do Distrito Federal também não se poderia dizer que era "mensalão". Arruda teria que receber pagamento para votar o que? O Governador?
Mas então porque estas questões foram apelidadas de "mensalão" pela oposição e pela mídia, atendendo aos interesses de Roberto Jefferson, que declarou ter repassado o valor que recebeu para seus companheiros de PTB, em uma atitude mais do que suspeita?
Simplesmente para justificar o apelido que deram ao CAIXA 2 do PT, que na realidade, como tenho afirmado, foi o que aconteceu.
"MENSALÃO" não existiu, foi CAIXA 2".
É preciso que se diga que não estou dizendo aqui que CAIXA 2 não é crime, que não estou defendendo quem quer que seja, PSDB, DEM ou PT, que sejam absolvidos ou condenados, que a JUSTÍÇA seja feita

sexta-feira, 1 de abril de 2011

QUEDA DE ROGER AGNELLI


A mineradora VALE é de economia mista, com  acionistas distribuidos pelos fundos de pensão, ligados ao governo, e ações em mãos particulares, como qualquer emprêsa que tem ações na Bolsa de Valores e, em consequência, obedecendo aos votos da maioria.
A mídia noticía que as ações da VALE baixaram diante da perspectiva da troca de comando, mas é inevitável que isto aconteça, quando não esta merecendo a confiança dos acionistas que decidem.
Diante da crise de 2008 que atingiu o mundo globalizado, o governo Lula pediu aos empresários que não demitissem, baixou impostos, isentou os produtos da "linha branca", determinou que a Caixa Econômica Federal e o Banco Brasil continuassem normalmente com a política de empréstimos e que os consumidores não deixassem de comprar.
Estas determinações colocaram o Brasil na dianteira para acabar com a crise, foi o último a entrar e o primeiro a sair.
Acontece que o senhor Roger Agnelli não acreditou que o Presidente Lula alcançasse sucesso com estas medidas e demitiu 1000 (um mil) funcionários, motivo pelo qual foi chamado pelo Governo, na condição de um dos principais acionistas, e o presidente da Vale teve o seu destino selado naquele momento.
É correto que a imprensa noticie o fato da baixa momentânea das ações da Vale, mas toda a emprêsa que se preze deve ter em seus quadros funcionários sendo treinados para atingir postos mais elevados e já há notícias de que um funcionário de alto padrão de comando estará, provavelmente, assumindo a Presidência.
Isto aconteceu no Banco Central, onde Meirelles realizou um ótimo trabalho, mas Tombini, que o substituiu, já estava preparado dentro do próprio banco para substituí-lo.
Qualquer presidente de emprêsa que deixar de preencher os requisitos de confiança necessários para os acionistas será automaticamente afastado.
E Roger Agnelli, além de não ter atendido o pedido do Presidente Lula para auxiliar no combate à crise, ainda recebeu acusação de não ter apoiado a candidata Dilma Roussef, um direito que realmente teria, apoiou Serra na expectativa de que este ganhasse as eleições.
Portanto, existem motivos que somados determinaram a queda de Agnelli.