domingo, 19 de dezembro de 2010

CRÍTICAS E OMISSÕES VERGONHOSAS


"A CONSTRUÇÃO DO MITO LULA"

Sob este título o Globo de hoje faz uma análise da ERA LULA, cuja matéria ingenuamente tivemos a curiosidade de ler, nós que lemos o jornal todos os dias, imaginando que poderia ter alguma coisa de diferente daquilo que conteem as matérias de Merval, Sardenberg, Ilimar e Noblat e Ancelmo.
Não discordamos da crítica que avançamos pouco em educação, saúde, saneamento, etc. etc., mas avançamos.
A coluna Panorama Político diz "a imprensa nunca foi tão criticada como durante o mandato do Presidente Lula", mas podemos dizer que um Presidente nunca foi tão maltratado como Lula.
A matéria diz que os escândalos dos vampiros e sanguessugas foram mais fortes do que os projetos, mas omite que os dois casos atravessaram o governo FHC.
Sobre a CPMF fala que o Senado derrubou o tributo, mas omite o fato de que exigiam, para manter o imposto, que Lula se comprometesse a destinar toda a verba para a saúde. Quando Lula, ao ver que perderia no voto, aceitou a exigência, Pedro Simon foi para a tribuna e solicitou que a votação fosse adiada para o outro dia. A oposição não aceitou e promoveu a queda da CPMF.
"FOME ZERO VIROU BOLSA, SEM PORTA DE SAIDA", afirmativa que não procede, omite o fato de que os filhos destas famílias saem da pobreza, da miséria, com o estudo a que se submetem, obrigação que têm para permanecer no programa.
Sob o título "A ERA LULA EM DOZE TEMPOS", a matéria tece vários comentários nos quais só as Organizações Globo acreditam, o povo vê de outra forma.
"BINGO NO PLANALTO", acusa Waldomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu de extorquir um bicheiro para arrecadar fundos para o PT, mas omite irresponsavelmente o fato de que o vídeo e o ato aconteceram quando Waldomiro era assessor do governo Garotinho no Rio de Janeiro, que era do PMDB.
"A QUEDA DE DIRCEU". Quando estourou o escândalo nos Correios, cujo quadro funcional seria de responsabilidade de Roberto Jefferson, com um funcionário sendo filmado recebendo propina, o ex-deputado cassado, pensando que a investigação teria José Dirceu por detrás, acusou o PT, mas vendo que se dissesse que seria Caixa 2 não teria repercussão alguma, já que supostamente todos os partidos teriam, apelidou de "mensalão" para causar impacto, e a grande mídia, como sempre, absorveu a idéia que atendia às suas pretensões  de atacar Lula.
"DOSSIÊ DOS ALOPRADOS". O dossiê nunca foi dos aloprados, que supostamente desejavam comprar um dossiê no qual Serra estaria envolvido.
Para encerrar, lendo este caderno de "O Globo" parece até que os 87% que Lula tem de avaliação hoje é negativa, e nos faz ter a certeza de que a grande mídia deixou de ser formadora de opinião por falta de credibilidade, na realidade o "FORMADOR DE OPINIÃO SOMOS NÓS, POVO".
A grande imprensa escreve para ela mesma, só eles acreditam no que escrevem, precisam entender que a "BASE DA PIRÂMIDE" se move livremente, contrariamente ao que acontecia  em tempos idos.
Um abraço e FELIZ NATAL E ANO DE 2011.
 

DEVOLVE NÃO CHICO

Carlos Diegues, 16 dezembro 2010

Anoiteceu, o sino gemeu. Então eis aí o Natal, podemos ouvir de novo “War is Over”, de John Lennon, sem temer que nos chamem de piegas. E, como na canção, ainda podemos perguntar, agora que o ano se aproxima do fim, pelo que você tem feito na vida.
Eu queria que fosse tudo como está no ensaiozinho de Jorge de Lima, “Todos cantam sua terra”. O grande poeta afirma ali que o catolicismo é uma marca profunda na formação da cultura ibérica. Mas enquanto na Espanha se manifesta por excelência através da paixão de Cristo, em Portugal se funda no auto de seu nascimento. Entre o Cristo Crucificado e o Menino Jesus, herdamos o lirismo desse, exorcizando a tragédia irreparável daquele. Preferimos as expectativas da vida às dores da morte, mesmo que redentora.
Será verdade?
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O cineasta italiano Etore Scola me disse uma vez que era mais fácil entender a Itália do pós-guerra através das comédias de Steno, Risi ou Monicelli, do que por meio dos clássicos do neorealismo. Mario Monicelli, o autor de filmes extraordinários como “Os eternos desconhecidos”, “Os companheiros” ou “O exército Brancaleone”, matou-se recentemente, com pouco mais de 90 anos de idade, jogando-se da janela de um hospital onde se internara em estado terminal, com câncer na próstata.
Está aí alguém que, em seus filmes, sempre esteve do lado da vida. Monicelli era um humanista crítico que se divertia com a existência e a fragilidade dos seres humanos. Seus personagens, sempre cheios de projetos mirabolantes, nunca acreditam de verdade que sejam capazes de realizá-los e acabam mesmo fracassando. Mas o fracasso é a descoberta da vida de fato, aquela que passa a nosso lado enquanto fazemos planos (mais uma vez, Lennon). Ele não ria de seus personagens. Ria com eles. Da vida.
Amigos comuns me contam que, sabendo de seus tumores fatais, em acelerada metástase, Monicelli pedira que o deixassem morrer logo, para evitar maiores sofrimentos. Os médicos se recusaram a atendê-lo e ele decidiu pela eutanásia por conta própria. Detesto suicidas, não sou complacente com eles, não respeito gesto tão agressivo, não vejo grandeza nele. Mas no caso de Mario Monicelli, um artista iluminado, um grande cineasta que escondia seu pessimismo por trás da graça de um permanente sorriso de solidariedade, alguma coisa me diz que ele tinha esse direito.
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O pecado original talvez seja nosso irreprimível desejo de ordenar o mundo. Acho que foi a necessidade de sobrevivência em ambiente hostil que nos obrigou a isso. E nossa secular educação cartesiana, um desejo irracional de absoluta racionalidade, acabou por não nos permitir contemplar o duplo, aquilo que é e também o seu contrário.
Não só tememos a diferença, como também não conseguimos conviver pacificamente com o conflito. Diante do outro, nosso instinto é de tentar eliminá-lo, acabar com a perturbação que nos causa. Nesse mundo contemporâneo de espetáculo e exibição, o outro que nos perturba (a diferença) pode ser também o sucesso de alguém que nos obriga a pensar sobre o valor de nosso desempenho.
Podemos amar uma estrela consagrada como Chico Buarque, contanto que ele fique no seu lugar, produza sua grande arte muito longe do palco em que atuamos. Se resolver jogar futebol, os outros jogadores não podem reconhecê-lo como craque, seria demais para a  afirmação deles nas quatro linhas da vida. Assim como pode bater em nós uma certa sensação de fracasso pessoal ou de simples ameaça, quando vemos suas peças tão oportunas e lemos os belos romances que já escreveu.
Não sou do ramo. Mas se entendi bem, “Leite Derramado”, seu romance mais recente, ganhou o tradicional prêmio Jabuti de melhor livro do ano, mas perdeu o de melhor ficção para outro. Isso gerou revolta em alguns editores, escritores, jornalistas e intelectuais, que chegaram a pedir a Chico que devolvesse o prêmio.
Mas, pelo que li no jornal, tal premiação já ocorrera antes na história do Jabuti e ninguém nunca reclamou, porque não são os mesmos os jurados que outorgam os dois prêmios, uma decisão não tem nada a ver com a outra, sendo essa a regra do jogo desde sempre. Mais ou menos como no futebol, onde o Goiás disputou a final da Copa Sul-Americana, tendo sido rebaixado à segunda divisão do Brasileirão. Ou no cinema, quando diretores de filmes laureados como os melhores do Oscar e dos festivais são ignorados na premiação de sua categoria.
Por trás dessa aparente purgação de um erro, está na verdade a necessidade de punir quem nos humilha tanto com sua indiscutível grandeza. O outro, quando é exemplar, pode ser pior do que se fosse inimigo. E um Jabuti é pouco, o Brasil deve muito mais do que isso a Chico Buarque.
Devolve não, Chico.
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E já que estamos no espírito de Natal, filmando recentemente no Acre, o único estado do país que fez guerra para ser brasileiro, encontrei numa sala de aula de ensino fundamental, escrita no quadro negro, a seguinte citação de Nelson Mandela.
“Ninguém nasce odiando outras pessoas pela cor de sua pele, por sua origem, ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
Batem os sinos.
 
carlosdiegues@uol.com.br
 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

VÔO DA ÁGUIA


                                               
                                                                       Paulo Nogueira Batista Jr.

            Os últimos dados do PIB, divulgados há poucos dias pelo IBGE, confirmam que 2010 será um ano excepcional. A economia brasileira deve crescer entre 7,5% e 8% - ritmo que não se via desde 1986, época do Plano Cruzado.
            Poucos países se recuperaram tão rapidamente da crise internacional e poucos cresceram tanto em 2010. Entre os países do G-20, só China, Índia e talvez Argentina devem apresentar taxas de crescimento mais altas do que o Brasil.
            Com um crescimento tão robusto, o mercado de trabalho melhorou muito no país. A taxa média de desemprego caiu para 6% nas principais regiões metropolitanas, o nível mais baixo desde o início da série da pesquisa iniciada em 2002. Aumentou a proporção de empregados com carteira assinada. O nível de emprego formal vem crescendo ano a ano, de forma significativa. Nos doze meses acumulados até outubro, o emprego formal cresceu 5,5%.
            Nada mal para uma economia que parecia, há não muito tempo, condenada a um quadro de crescimento medíocre, incapaz de gerar empregos em quantidade e qualidade adequadas. Na década de 1990 e na primeira metade da atual, toda recuperação durava pouco. Era a síndrome do “vôo da galinha”.
            A expressão, muito difundida na imprensa, era profundamente humilhante. Comparado “urbi et orbi” a uma galinha, o brasileiro rilhava os dentes de frustração.
            Passou. Hoje, já podemos talvez arriscar: o vôo é de águia. Os estrangeiros, que não sofrem das nossas cautelas e inibições, tratam o Brasil de águia para cima. Aqui fora, a economia brasileira é um grande sucesso de público e bilheteria.     
            Mas, não vamos exagerar. A preocupação dominante no Brasil é a oposta. “Estamos crescendo demais”, sustentam alguns. “Isso terminará em lágrimas”, vaticinam outros. O Plano Cruzado, referido no primeiro parágrafo, é uma lembrança traumática – um exemplo de como o crescimento excessivo pode desaguar em inflação e desequilíbrios de balanço de pagamentos.
            Acredito, entretanto, que o Brasil aprendeu muito com o Cruzado e outros episódios. Ao longo de 2010, o governo tomou medidas para frear a demanda. Retirou estímulos introduzidos durante a crise e aumentou a taxa básica de juros. Agora em dezembro, O Banco Central decidiu aumentar os compulsórios bancários com a finalidade de conter a expansão do crédito. O novo governo anunciou também que fará cortes de gastos em todos os ministérios.
            As medidas de contenção anteriores já estão afetando o crescimento. O PIB do terceiro trimestre sofreu desaceleração apreciável. A indústria e a agropecuária apresentaram queda no trimestre em comparação com o trimestre anterior. Nos meses recentes, o grau de utilização da capacidade instalada na indústria tem ficado aproximadamente estável, com ligeira tendência de queda.  
            A desaceleração não chega a ser preocupante por enquanto. O ritmo do primeiro semestre (cerca de 8,5%) era provavelmente perigoso. Já estava tendo algum efeito sobre a inflação e as contas externas correntes.
            O desafio, como sempre, é equilibrar o crescimento com o controle da inflação e das contas externas. Esse é a primeira tarefa do novo governo em 2011. Manter a inflação e as contas externas em ordem, sim. Mas sem abortar o crescimento de que o país tanto precisa para continuar gerando empregos, reduzir a pobreza e superar o subdesenvolvimento. 
           
Publicado em “O Globo”, 11 de dezembro de 2010.

Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.

Twitter: @paulonbjr   

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DOS "ANOS DE CHUMBO" ATÉ DEMÉTRIO MAGNOLI...


Rio, 09/12/2010

Lendo matérias de Merval Pereira, Sardenberg e Demétrio Magnoli em "O Globo" de hoje, decidi fazer alguns comentários dedicados não só a estes, mas a Noblat e a grande imprensa manipuladora, indo dos "anos de chumbo" e Carlos Lacerda, passando por Leonel Brizola, General Figueiredo, Proconsult e Moreira Franco.
Entendo que os políticos de direita dos anos 1960 usaram o exército para dar o golpe de 1964, com o falso argumento de que o comunismo estaria tomando conta do Brasil, porque tinham que justificar. Como não tinham outro argumento usaram a "guerra fria" e conseguiram até o apoio dos EUA  para perpetuar o crime que atrasou o Brasil 50 anos.
Entendiam os políticos como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto que em seis mêses os militares fariam uma eleição e, com os políticos do antigo PTB cassados, elegeriam o Presidente da República. "Quebraram a cara" porque os militares resolveram ficar no poder.
Mas nesta época já se comentava o aumento significativo das moradias nos morros cariocas, favelas, e Lacerda e o poder dominante teria comentado "deixa eles crescerem depois vamos lá e derrubamos tudo".
Não foi o que aconteceu e as favelas cresceram com famílias pobres, de gente honesta e trabalhadora, que pouco a pouco foram sendo acompanhadas de traficantes e bandidos.
Demétrio Magnoli, com a "luminosidade" de quem defende os interesses do PIG, sempre, escreve hoje "um quarto de século atrás, Leonel Brizola abandonou as favelas do Rio ao crime organizado", em uma deslavada mentira, claro que apoiada na imprensa de direita que sempre combate quem pensa de forma diferente ao que eles apregoam.
Brizola não abandonou as favelas do Rio, apenas deu orientação para a Polícia Militar não arrebentar portas de casas de favelados à pontapés, sem acusação formal, depois de ter vencido a eleição contra Moreira Franco, que era apoiado pelo General Figueiredo e pelas organizações Globo, acusados de estarem juntos com a Proconsult em uma estratégia das mais vergonhosas, de roubar a eleição de Brizola.
Mas Moreira Franco, candidato pelo PDS, partido saído da Arena, partido da ditadura, ganhou a eleição de Darcy Ribeiro, que era o candidato de Brizola, prometendo acabar com a violência em seis mêses, o que não cumpriu em seu mandato de quatro anos.
Brizola voltou ao governo, mostrando em um dos seus programas na TV, uma edição da revista Veja que na capa dizia "o Rio não aguenta mais a violência", só que esta revista era de antes do ex-governador assumir, do final dos anos 70.
Portanto Demétrio, você deveria estar fora do País quando esta história aconteceu, na realidade.
Outra bobagem senhor Demétrio Magnoli, é dizer "o fracasso da convivência pacífica entre UPPs e tráfico levou Cabral ao confronto". Muito pelo contrário, o sucesso das UPPs é que fez os traficantes radicalizarem na violência, pela perda de espaço, atendendo equivocadamente o apelo dos bandidos presidiários, que os levaram a tomar atitudes que os prejudicaram ainda mais.
O equívoco foi atenderem a presidiários que já estão numa pior, não têm mais nada a perder, contrariamente aos traficantes da Vila Cruzeiro/Complexo do Alemão que sofreram o maior prejuízo jamais sentido por eles, com mais de 35 toneladas de maconha apreendidas, além de cocaína e armas.
Nós entendemos como a maioria das autoridades mundiais que a invasão do Iraque seria um tremendo êrro, como realmente foi, com Bush invadindo atrás do petróleo que não conseguiu, causando o maior prejuízo já sofrido pelos EUA, que vão pagar por muito tempo pelos êrros do pior Presidente da República que os Estados Unidos da América já tiveram.
Mas tem uma coisa, comparar o Iraque com o Rio de Janeiro é uma heresia completa, irracional senhor Demétrio.
Quanto ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg, é um dos que defendem o estado mínimo, e é daqueles que afirmam convictamente que "somos um País capitalista".
Mas que capitalismo é este que tem um dos salários mais baixos do mundo?
Capitalismo é o dos EUA, da Suécia, da França, da Alemanha, etc., onde os salários são elevados e as famílias não são  obrigadas a buscar na saúde pública, na educação de escolas publicas o socorro para poderem sobreviver, o que eleva os nossos tributos obrigatoriamente, o nosso "capitalismo" é selvagem e falso se comparado com países de primeiro mundo.
Quanto à questão da educação todo o Brasil sabe que é, também, uma das piores, mas faltou a grande mídia criticar nos tempos de FHC que era ridícula, se criticassem sempre, não só quando não apoiam governos, o Brasil estaria muito melhor, e a educação apesar das críticas, até que melhorou, mas uma melhora pífia, que não atende aos interesses maiores do País, que precisa "dar o salto" que só será possivel se ultrapassarmos esta barreira.
Estes comentários que fiz servem também para Noblat, que escreve nesta linha, de acordo com as orientações das organizações Globo, a que serve, e se assim não for, terá o destino de Maria Rita Kehl, demitida do Estadão por escrever uma matéria com a qual não concordaram (esta no meu blog).
Merval faz a defesa hoje do partido ao qual eu sugeri que assinasse a ficha partidária, o DEM, que só sabe defender a queda dos tributos, sem dizer de onde tirar os recursos que são utilizados para atender as populações carentes de nosso País.
Quando o PFL mudou de nome para DEM encaminhei email para o ex-prefeito Cesar Maia, dizendo que não adiantava mudar de nome, teria que mudar de atitude, defender toda a população brasileira e não só as elites. Não mudou, cai cada vez mais e continuará caindo, só existe no Rio de Janeiro por Cesar Maia, praticamente já destituiram Rodrigo Maia da presidência, não tem força maior e Kassab só não saiu ainda pelos impedimentos legais que podem fazer com que perca o mandato.

sábado, 4 de dezembro de 2010

DE QUEM SÃO OS RECURSOS

De Carlos Diegues – 3 dezembro 2010
Li artigo recente do presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema), Manoel Rangel, na “Folha de São Paulo”, em que, com toda razão e discernimento, ele afirma que “felizmente, hoje já está disseminada a compreensão de que qualquer país que deseje ter um futuro no cenário mundial deve ser um grande centro produtor de audiovisual (...) Não é por outro motivo que todos os países de economia avançada têm construído instrumentos de política pública para lidar com a importância econômica, simbólica e cidadã do mercado audiovisual”.
Mas logo sou informado de que, durante discussão sobre a renovação pelo Congresso do Artigo 1º da Lei do Audiovisual (artigo que autoriza o investimento privado em produção audiovisual, através de incentivos fiscais), Manoel Rangel teria afirmado que, se isso não acontecer, a atividade não será prejudicada, pois empresas como o BNDES já se comprometeram a aplicar os mesmos recursos, por meio de outros mecanismos.  Não sei que outros mecanismos são esses, mas sei que uma lei feita para ser cumprida é coisa muito mais republicana que compromissos difusos e, às vezes, pouco confiáveis.
Existe uma Medida Provisória, a MP 501, aprovada pelo presidente Lula, com apoio de todos os sindicatos e representações formais da atividade, que manda renovar esse Artigo 1º da Lei do Audiovisual, para que continue a haver investimentos privados no setor. Essa MP vai ser votada no Congresso nesta próxima semana e não é admissível que correligionários, aliados e colaboradores do governo a boicotem ou se mantenham neutros diante dela. Sobretudo porque a consequência imediata de sua rejeição será a paralização da atividade.
Por outro lado, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, um servidor público que, junto com Gilberto Gil, elevou o patamar de valor e respeito de seu ministério, vem repetindo declarações de que a política de financiamento da cultura deve ser revista. Em reunião recente do Conselho Superior de Cinema, ele teria afirmado, por exemplo, que os recursos de incentivos fiscais são “recursos públicos” e que "se uma empresa, por causa dos chamados custos operacionais, recebe mais de 100% de retorno sobre o que investe em projetos audiovisuais, não seria melhor transformar esses recursos em orçamento?”.
Não, ministro, não seria. Primeiro porque não é verdade que esses recursos sejam públicos, isso é uma superstição que nos foi politicamente imposta para nos culpabilizar e nos manter dependentes dos caprichos do governo, qualquer governo.
Os valores de incentivos fiscais são uma riqueza criada, em seu primeiro e original momento, pela iniciativa privada. Depois, parte dela é confiscada pelo estado, na forma de tributos. O mesmo estado que, num terceiro momento, devolve o que foi confiscado ao contribuinte responsável por sua produção, afim de que ele o invista na atividade escolhida. Tem sido assim na desoneração fiscal de automóveis e eletrodomésticos, em todas as iniciativas desse mesmo gênero, nesse mesmo governo. Por que não pode ser assim também na cultura, como aliás o é em tantos países pelo mundo afora? 
O que nos sugere o eventual fim dos incentivos fiscais é a velha fórmula de administração paternalista do estado, financiando obras através de seu orçamento e portanto selecionando aquelas que mais lhe convêm. Esse seria um salto para trás, um imenso recuo depois de tanto esforço de modernização dos mecanismos de financiamento da cultura e do cinema, um esforço que vem progredindo desde 1950, quando Alberto Cavalcanti voltou ao Brasil e nos ensinou o modo europeu de produção no pós-guerra. E não esqueçamos que o ministro da Cultura que criou e assinou a primeira lei de incentivos fiscais para a atividade foi nada mais, nada menos que Celso Furtado.
O ministério da Cultura e a Ancine têm seguido um rumo correto nos programas de salas populares de exibição e na busca de um espaço na televisão para o audiovisual brasileiro, como está na PLC 116, em discussão no Congresso. Ou como é o projeto do Vale Cultura, o mais eficiente e democrático modo de financiar o consumidor da atividade. Mas cadê o Vale Cultura? Por que não se luta por ele com o mesmo empenho com que se deseja acabar com a participação da iniciativa privada no cinema?
E esse recuo todo acontece num momento em que o cinema brasileiro produz quase 100 filmes por ano, estoura bilheterias com sucessos de vários gêneros, ocupa mais de 20% de seu próprio mercado, se impõe junto a críticos e festivais, revela inúmeros novos cineastas com novíssimas ideias como se viu nos festivais de Tiradentes e Brasília de 2010. Ou seja, num momento em que devíamos estar tratando de aprimorar o que levou tanto tempo para começar a dar certo.
Não sonho com uma Albânia do Sul para a cultura brasileira. O império do estado e sua burocratização na produção cultural do país seria a negação do processo de desenvolvimento em liberdade de suas indústrias criativas e de novas tecnologias convergentes que se multiplicam e que desejamos livres, leves e soltas. É sobre isso que devemos, agora, nos debruçar e nos empenhar. Engessar desde já esse futuro, domesticar sua luz selvagem com o bloqueio do estado único e unívoco, aquele que fatalmente exigirá o conteúdo que lhe for mais conveniente, é um grave crime contra a criatividade neste país.
                                                                             

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

MAIS UMA VÍTIMA


Paulo Nogueira Batista Jr.

Eu já disse e volto a repetir: a turma da bufunfa é a grande praga do mundo contemporâneo. Nada e ninguém consegue superá-la ou mesmo igualar os seus feitos destrutivos. Desde 2008, o estrago provocado por essa confraria atingiu proporções inimagináveis, principalmente nos países desenvolvidos e na periferia emergente da Europa. A Irlanda, completamente quebrada e arruinada, é a última vítima dos desmandos financeiros.
Na raiz da crise mundial está a hipertrofia do sistema financeiro nas décadas recentes. Os fluxos de capital, os movimentos financeiros e os ativos dos bancos aumentaram dramaticamente como proporção da atividade produtiva e das transações comerciais. Grande parte dessa atividade financeira ocorreu à margem da regulação e supervisão por parte dos governos e bancos centrais.
A Irlanda é um dos casos extremos. Lá, os ativos do sistema bancário correspondem a quase cinco vezes o tamanho do PIB do país. Nessas condições, uma crise bancária é capaz de arrasar a economia do país e as finanças públicas. E foi o que aconteceu.
A hipertrofia financeira não é um fenômeno estritamente econômico (não existem, aliás, fenômenos estritamente econômicos). Junto com o peso econômico aumentou o peso social e político dos bancos e de outras instituições financeiras privadas. Evidentemente, uma coisa alimentou a outra.
Governos, partidos políticos, parlamentares, mídia - todas essas esferas ficaram sob a influência de Wall Street e suas contrapartes no resto do mundo. Produziu-se enorme concentração de renda e de poder. Jovens executivos de bancos, muitos deles despreparados, passaram a dar as cartas em grande parte do planeta. Circularam por toda a parte vendendo ilusões e pirâmides especulativas.
Essa hipertrofia do poder financeiro é, diga-se de passagem, uma dimensão de um fenômeno muito mais amplo, identificado por Nelson Rodrigues, como "o triunfo do idiota". O destino de sociedades inteiras passou para as mãos de uma geração de empresários e lideranças sem visão e sem escrúpulos. O mais grave é que quase todos os países desenvolvidos permitiram essa especulação desenfreada. Não é por acaso que a economia mundial atravessa crise tão profunda e prolongada.
Digito essas frases e paro. De repente, percebo que estou usando, aqui e ali, um tom e uma ênfase inapropriados para uma coluna de jornal. Desculpem. Volto à Irlanda.
Os dados macroeconômicos irlandeseses parecem saídos diretamente da ficção científica. A recapitalização dos bancos exigiu gastos equivalentes a nada menos que 20% do PIB! O déficit público deve alcançar o valor estarrecedor de 32% do PIB em 2010. Calcula-se que a relação entre a dívida pública e o PIB, que era da ordem de 25% antes da crise, chegue a cerca de 100% neste ano. Tudo isso depois de um ajuste fiscal feroz em 2009 e 2010 (muito elogiado por outros países).
A tentativa de socorrer os bancos, desde 2008, quebrou o Estado. Os bancos irlandeses eram grandes demais para falir e grandes demais para serem salvos pela Irlanda. A única saída foi pedir apoio à União Europeia e ao FMI.
Os irlandeses passam momentos terríveis. A economia foi atingida por uma recessão de rachar quarteirão desde 2008. O nível de atividade vem caindo há nove trimestres consecutivos. A economia sofre uma tendência à deflação, com o nível geral de preços ao consumidor caindo em 2009 e 2010. A taxa de desemprego triplicou, aproximando-se de 14%. Não há recuperação à vista.
É o preço que se paga por confiar demais na abertura financeira, nos bancos e nas finanças globalizadas.
 
 
 
Publicado no jornal “0 Globo”em 27 de novembro de 2010  
 
 
Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.
 
E-mail: paulonbjr@hotmail.com
Twitter: @paulonbjr    

domingo, 21 de novembro de 2010

O PAPEL DE LULA NO GOVERNO DE DILMA

21/11/2010 - 09:18
BLOG DO RICARDO KOTSCHO 

 

Num ponto, pelo menos, as personalidades de Lula e Dilma são muito semelhantes: os dois são teimosos, não gostam muito de ouvir palpites e conselhos, e apreciam exercer a autoridade, às vezes de forma brusca, deixando claro quem manda.
Por isso mesmo, não dou crédito a esta história de que o governo Dilma será apenas um terceiro mandato de Lula com outro nome. Quem diz isso não conhece a Dilma nem o Lula.
Claro que o futuro ex-presidente estará sempre à disposição da presidente eleita para colaborar, ajudar na articulação política e nos momentos de crise, mas só quando for chamado por ela, por iniciativa dela, jamais dando uma de oferecido. Não é do feitio dele.
Os dois têm grande respeito e admiração um pelo outro _ Lula pela gestora Dilma e Dilma pelo líder político Lula. O atual presidente não atropelaria a autoridade de quem foi eleita por indicação dele mesmo para exercer o poder central em seu lugar. Até seus piores inimigos concordam que Lula pode ser chamado de tudo, menos de burro.
Dilma tem plena consciência de que deve o mandato a Lula e será fiel aos princípios do atual governo, que deverá manter, em especial na política econômica. Ninguém, nem eles, pode ter absoluta certeza sobre o futuro, mas não acredito num possível rompimento entre criador e criatura, como muitos já especulam, e outros nem disfarçam a torcida para que aconteça.
Até porque, um continua dependendo muito do outro: Dilma depende do apoio de Lula para governar em paz com seus aliados e Lula precisa que o governo Dilma dê certo para preservar sua credibilidade, a própria imagem e a do seu governo.
Por isso mesmo, e mais duas razões bem simples, Lula não deverá voltar a se candidatar em 2014:
* Se o governo Dilma for um sucesso, ela certamente será a candidata natural do PT à reeleição.
* Se tudo der errado, a imagem de Lula também será abalada porque, afinal, ele foi o mentor e o fiador da eleição de Dilma.
Mesmo na remota hipótese de vir a ser candidato e de ser eleito, Lula sabe que correria o sério risco de perder, num eventual terceiro mandato, o prestígio que conquistou nos dois primeiros, chegando a mais de 80% de aprovação popular _ o que é inédito e não deverá se repetir tão cedo. Seu lugar na história já está garantido. Para que arriscar?
Pelo menos nos primeiros tempos do governo Dilma, depois de um breve descanso, Lula deverá se dedicar mais a fazer política lá fora do que aqui dentro do país. O instituto que pretende criar tem como principal foco levar a experiência das políticas públicas e dos projetos sociais do seu governo para países pobres da América Latina e da África.
Além disso, Lula terá que correr o mundo em 2011 para receber dezenas de títulos de “doutor honoris causa” que lhe foram outorgados ao longo destes últimos oito anos. Por razões que desconheço, ele deixou para receber todos só depois de deixar o governo. O metalúrgico vai virar “doutor Lula”…

Autor: Ricardo Kotscho

sábado, 20 de novembro de 2010

FUNDAMENTALISMO DA TRISTEZA

Carlos Diegues, 19 nov 2010

Como o mundo não está nada fácil e a humanidade ainda não se acostumou às novidades, nunca se escreveu tanto sobre felicidade, como vou fazer agora. A soberania iluminista, que se impôs ao longo dos últimos três séculos, nos iludiu com a possibilidade de termos o controle de tudo; e, de repente, não sabemos como agir diante da evidência de que nada obedece ao roteiro traçado por nossas crenças.
De nada adiantou Spinoza nos alertar, no início da idade da razão, para o fato de que a natureza não tinha nenhum plano para a humanidade. Como nada adiantou Charles Darwin nos explicar com quantos acasos se fez a vida como ela é. À tradição do humanismo cristão se somou o cristianismo laico das ideologias redentoras que apontam para o fim triunfal da história, no paraíso dos justos, na sociedade sem classes ou na harmonia com a natureza.
Com isso, desprezamos a importância de nossos pobres sentimentos. Eles seriam comandados por fatores externos, revoluções da matéria ou do espírito que nos levariam a um futuro bem-estar qualquer. Verdade e Realidade se tornam deidades, indiscutíveis e únicas, que norteam nosso comportamento no mundo.
É verdade que Freud e Einstein, cada um em seu ramo de negócios, popularizaram dúvidas em torno dessas ideias. Mas eles não viveram o suficiente para compreender que mesmo o relativo é relativo e nada será mesmo para sempre. Se não tivessem contado a Édipo que Jocasta era sua mãe, os dois teriam vivido felizes, com seus quatro lindos filhinhos, o resto de suas vidas.
Nossa vontade vale muito pouco. Ou, no limite, muito menos que nosso desejo. Sendo a vontade um exercício intelectual em nome de um projeto e o desejo uma necessidade a que só os santos resistem, como no capitalismo visto por Lacan.
Einstein e a ciência quântica abriram nossos olhos para o fato de que realidade e verdade são apenas uma relação entre o observador e a coisa observada. Como escreve Marcelo Gleiser, nosso grande astrofísico e ensaista, “a objetividade imparcial se torna obsoleta, já que mente e realidade se tornam inseparáveis”. O que desmoraliza o terrorismo crítico e seu rigor caricato – o  que ele pensa estar na obra, está muitas vezes em sua própria mente.
A confiança total na razão, como se coubesse exclusivamente a ela iluminar nosso caminho com seus potentes faróis de absoluto, secou nossas almas de tanta coisa que nossos ancestrais usaram tanto para podermos chegar até aqui. Em seu livro mais recente, o filósofo francês Edgard Morin (que, aliás, teve um papel importante na construção do cinema moderno) declara que hoje, vivendo num planeta tão pequeno e tão superpovoado, alvos de informações inclementes das quais nem sempre necessitamos, só nos resta a solidariedade pura e simples, sem prévio conteúdo ou estratégia estabelecidos.
No último Festival de Cannes, alguns jornalistas europeus (sobretudo franceses) começaram a questionar a tristeza dos filmes contemporâneos na moda, o pessimismo e o elogio da impotência que atravessavam grande parte dos melhores filmes ali exibidos, a começar por alguns que seriam premiados no final do certame. O que chamei de fundamentalismo da tristeza, uma fé dogmática no fracasso da humanidade e em sua incapacidade de seguir em frente. Assim, só é contemporâneo aquilo que for triste, só é iluminado aquilo que apontar para a escuridão.
Ainda bem que, logo depois de Cannes, fomos convidados para participar do Festival Lumière, na cidade francesa de Lyon, onde o cinema foi inventado em 1895. Este festival, dedicado à projeção popular de filmes antigos, recuperados e restaurados em diferentes países, seria aberto pela exibição de uma cópia nova de “Cantando na Chuva”, o musical clássico dos anos 1950, de Gene Kelly e Stanley Donen (que, com quase 90 anos de idade, estaria presente à sessão).
Ali, no Halle Tony-Garnier, um secular abatedouro transformado em arena pública de espetáculos, eu e Renata, minha mulher, nos juntamos a 5 mil pessoas que celebravam juntas o simples fato de estarem vivas e poderem dançar, aplaudindo aos gritos e assobios cada novo número musical. Esse prazer que estamos aprendendo a perder, na solidão de nossos home-theatres, na melancolia de nossos estreitos multiplexes.
A meu lado, um velho amigo, o cineasta italiano Marco Tulio Giordana, com lágrimas nos olhos, me dizia que “esse filme era de quando a gente achava que o mundo tinha jeito”. Pois bem, o mundo não tem mesmo jeito, sempre foi e sempre será assim. E a humanidade também não é lá grandes coisas. Mas foi nele e com ela que nos foi dado viver, é com ambos que temos que negociar convivência e sobrevivência.
O homem feliz é um mito da adolescência da humanidade. O que existe são momentos de felicidade e de infelicidade, com duração variável. O que nos cabe é fazer com que esses momentos durem mais ou menos, conforme nossos desejo e preferência. Dante Alighieri nos informou que o inferno é aquele lugar em que, ao entrar, você deixa a esperança na porta. O inferno, portanto, é a ausência de esperança.

carlosdiegues@uol.com.br

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

OPINIÃO PÚBLICA

Quando há interesse em dominar algum assunto, logo se invoca o apoio da "opinião pública" e daí se coloca como a maioria estaria de acordo com esta ou aquela posição.
Em "O Globo" de hoje a coluna de Merval Pereira/PSDB/DEM coloca como a CPMF estaria sendo rejeitada com vigor pela "sociedade", só que o grupo a que se refere é composto pela FIESP, OAB e as elites de direita radical representadas pelo PSDB/DEM, sempre deixando de fora as maiorias que integram as classes C, D e E.
A mídia representada pelas organizações Globo, Estadão, Folha de São Paulo, revista Veja, etc. tenta em todos os momentos convencer que eles são a "opinião pública", o que fez o Presidente Lula declarar "a opinião pública sou eu", em um momento de arroubo.
Não se pode excluir ninguém em questão alguma que se refira a pensamentos, ideologias, e a imprensa elitista parece que não aprendeu, com os resultados das eleições, que existem muito mais segmentos além daqueles que pensam como eles.
Criticam, criticam, falam e até chegam a conclusão de que o que afirmam é a verdade absoluta, mas quando as suas críticas, suas opiniões, são confrontadas pelo voto representado pela população como um todo, perdem como aconteceu em 31 de outubro.
Não se convence ninguém, a não ser algum ingênuo, com críticas como fizeram durante a campanha eleitoral, e foram muito pesadas, caluniosas, ofensivas. Qual o resultado que alcançaram? Nenhum a não ser a derrota.
É preciso que a oposição perceba que ataques como os que foram desferidos no Senado Federal, por senadores como Arthur Virgílio, Heráclito Fortes, Mão Santa, Agripino Maia, Tasso Jereissati, Álvaro Dias não levam sempre a resultados positivos, prova esta que destes só Agripino Maia se reelegeu e Álvaro Dias deverá ser reavaliado em 2014.
O Presidente Lula foi até ameaçado de levar uma surra por Arthur Virgílio mas quem levou a surra foi ele nas eleições para senador no Amazonas.
É muito fácil a grande imprensa dizer que a opinião pública apoia isto ou aquilo mas a população já esta "vacinada", sabe que nem "tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cái".
Nós, a população brasileira, não aceitamos que simplesmente ouçam as populações que habitam a Avenida Paulista ou a Avenida Copacabana, os que moram em Ipanema, no Leblon ou na Barra da Tijuca sem ouvir também as favelas, as periferias, as regiões Norte e Nordeste, e afirmem que ouviram o Brasil, enfim todo o País deve ser ouvido e daí sim teremos uma verdadeira "OPINIÃO PÚBLICA".
A grande imprensa deve aprender a ouvir a população sem tentar enganar o povo, como fez durante toda a campanha eleitoral.

domingo, 7 de novembro de 2010

O ÓDIO QUE AFLOROU NA INTERNET

OPINIÃO ROXA

Por Michel Blanco . 05.11.10 - 17h33

Sala, copa e cozinha

Uma jovem estudante de Direito, desalentada com a vitória da petista Dilma Rousseff, ganhou fama ao clamar no Twitter o afogamento de nordestinos em benefício de São Paulo. O ódio da moça brotou em meio a uma campanha difamatória que irrigou expedientes eleitoreiros. Se na TV o marketing cuidou de dar boa aparência aos candidatos, na internet a coisa foi feia. Levante a mão quem não recebeu um único spam desqualificando os votos da população assistida pelo Bolsa Família. Sobre tal corrente, a psicanalista Maria Rita Kehl disse o que tinha de ser dito – e foi punida por isso. Assim estávamos na campanha…
A xenofobia da estudante paulista, no entanto, não é retrato das tensões do momento. É uma fotografia embolorada, guardada num fundo de armário, agora trazida à tona. Quem triscou fogo nos spams sabia que o ódio fermentava. Bastava uma faísca. Se tiver estômago, pode ler uma coletânea de tweets odientos — e odiosos — no Diga não à Xenofobia. A menina não está só.
A maioria dessas mensagens parte de jovens de mais ou menos 25 anos. O que leva a supor que muitos deem vazão a preconceitos ruminados à hora do jantar em família, da festinha do sobrinho ou do churrasco da faculdade. Está aí boa parte da festejada geração da internet, que confunde vida real com a vida em rede, mas se sente imune às consequências de atos online. Mostram os dentes no Twitter como se estivessem a salvo da luz do dia, como se não fosse dar nada. Mas deu, mano.
A moça que gostaria de afogar um nordestino em São Paulo acabou ela mesma por submergir. Deletou seu perfil ante a repercussão do caso, que lhe rendeu a protocolação de uma notícia-crime pela OAB de Pernambuco no Ministério Público Federal em São Paulo. O escritório de advocacia onde estagiava apressou-se em dizer que ela não despacha mais por lá. O caso foi parar até nas páginas do britânico Telegraph. Vários outros “bacanas” seguiram os passos da menina e desapareceram do Twitter. Talvez arrependidos de um ato impensado, da ausência completa de reflexão ou, mais provável, da ameaça de punição legal. Quem sabe ainda há tempo para deixar as trevas.
Ironicamente, o aguardado uso da internet nas eleições ajudou a liberar o que há de mais retrógrado entre nós (embora o poder transformador da rede esteja muito além disso). Parecemos recuar 50 anos em relação a direitos civis. Houve até o retorno de mortos-vivos, grupos pouco representativos e de triste memória. Não bastasse o proselitismo religioso, a ação das militâncias, oficiais e oficiosas, a campanha na internet descambou para baixaria geral. Conhecido o resultado da eleição presidencial, viria o pior: o insulto aos eleitores, desclassificando-os.
Enfim, é uma questão de classe; não de compostura. Uma parte dos jovens que se julgam classe A levantou-se da sala de jantar para reinstaurar a separação da copa e da cozinha, sem se dar conta de que a divisão dos cômodos já não é tão sólida. O que move tanto ódio? Passionalidade do clima eleitoral não é o suficiente.
Nunca na história deste país (tá, essa foi só para provocar) se falou tanto em classes C e D e E. Estão todos os dias na imprensa; chamam atenção pelo crescente poder de consumo. E é a isto que a noção de classes parece se resumir hoje: consumo. Talvez esteja aí a raiva dessa moçada, muito mais identificada com bens do que com valores.
Identificar-se por aquilo que se consome pressupõe um sentimento de exclusividade. “Eu tô dentro e eles, fora”. Uma concepção de vida alimentada e também confrontada pela massificação do consumo. A tensão desponta quando “eles”, os esfarrapados, começam a ter o que “eu” tenho. A exclusividade mingua, e o povão chega chegando, sentando ao seu lado no avião. É preciso descolar novos meios para diferenciar uns dos outros. A desqualificação é um deles.
Um dos legados desta eleição embalada por baixarias é uma tensão que parece escapar da acomodação sobre a imagem construída pelo mito fundador nacional. Descobrimos um pensamento ultra-conservador no Brasil, e ele pôs a cabeça para fora. Seria um exagero, no entanto, dizer que o país está dividido. Mas é igualmente um equívoco considerar que a identidade nacional sai ilesa – por definição, ela é lacunar, ao pressupor a relação com o outro. O que queremos de nós mesmos?
Mas na cabeça dessa moçada raivosa, nada disso seria necessário, e a harmonia se restabeleceria desde que todos estivessem nos lugares “certos”. Assim, estão prontos para experimentar o que consideram desenvolvimento e mal esperam a ocasião para pôr à mesa de alguma congregação do Tea Party uma iguaria nacional: uma saborosa broa de milho feita pela mãos da preta dócil que serve a casa.

sábado, 6 de novembro de 2010

O EXEMPLO DE OBAMA

DE ZUENIR VENTURA em "O Globo" de hoje.

Ao contrário do presidente Barack Obama, que com invejável franqueza aceitou a derrota, confessou-se humilhado e assumiu a responsabilidade pela "surra", reconhecendo sua culpa, os perdedores daqui estão tendo grande dificuldade de admitir a derrota nas últimas eleições. O chororó comporta todo o tipo de alegações para desqualificar a vitória de Dilma Roussef - algumas até fazem sentido, mas outras são justificativas ridículas, desculpas esfarrapadas. O candidato José Serra chegou a transformar sua frustração em "vitória estratégica", mas pelo menos não tentou diminuir o mérito da adversária.
Em compensação, foi estranha a reação de certos dirigentes da oposição e de torcedores inconformados. Houve quem alegasse que "Dilma não se elegeu, foi eleita por Lula", como se esta simplificação explicasse tudo. E houve quem afirmasse que a candidata do PT ganhou porque os seus 55 milhões de eleitores têm desprezo pelos valores éticos ou, mais precisamente, por terem "assassinado a ética". A disputa teria sido um jogo maniqueísta entre um lado onde só houvesse o bem e outro onde só existisse o mal, com derrota do bem, claro.
Malabarismo maior fez outro observador, ao concluir que a expressiva votação de Serra, somada aos votos brancos, nulos e ao alto nível de abstenção, "deixa clara a insatisfação da maioria do povo não só com ela, mas também com o próprio Lula". Por esse raciocínio, que considera todos esses votos serristas, Serra teria sido o verdadeiro vencedor das eleições, não sua adversária. É o time daqueles que, por não gostarem de Lula, acham um absurdo 80% gostarem. Como pode ser tão popular se eu não o apoio?
A derrota as vezes não só obscurece a razão como mobiliza baixos instintos, como os dessa tal estudante de direito Mayara Petruso, de SP, que postou no seu twitter a mensagem racista contra o Nordeste: "Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado." Os ataques de xenofobia da futura advogada - advogada, imagine! - provocaram polêmica nas redes sociais e o repúdio da OAB. E a reação bem-humorada de um pernambucano em meio à indignação: "Eles elegem o Tiririca e veem nos chamar de atrasados!".
Em vez de tentar tapar o sol com a peneira, seria mais honesto e realista responder como fez a brasinialista Timothy Power, quando lhe pediram para explicar a vitória de Dilma: "O padrão de vida de muitos brasileiros melhorou nestes últimos oito anos de governo, e as pessoas quiseram uma continuação. "Ou então se render ao óbvio, como fez Obama, adotando um mea culpa, perdemos porque não soubemos vencer. Simples assim.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A COR DO MAPA

Deu no Correio Braziliense
De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Enquanto proliferam explicações e opiniões a respeito da vitória de Dilma, é preciso estar atentos aos fatos. Sem eles, ficam somente as impressões e as versões.
Algumas sequer nascem da interpretação de alguém, com a qual se pode concordar ou discordar. São as mais perigosas, pois não estão claramente marcadas com um sinal de autoria. Por não tê-lo, terminam parecendo verdades naturais, como se fossem apenas “dados de realidade”.
Tome-se o modo como a mídia costuma apresentar os resultados da eleição, sempre através de mapas. Todos os veículos os usam, colorindo os estados onde Dilma ganhou de uma cor e aqueles onde Serra se saiu melhor de outra. Não por acaso, pintam os primeiros de vermelho e os outros de azul.
Vistos sem maior reflexão, esses mapas mostram um retrato enganoso da eleição. Pior, podem induzir a uma impressão equivocada e a versões incorretas sobre a eleição que acabamos de fazer.
O que vemos é um Brasil dividido quase ao meio, ao longo de uma linha que começa no Acre, passa pela divisa norte de Rondônia, Mato Grosso e Goiás, e vai até o Atlântico, na altura do Espírito Santo. Abaixo dela, tudo fica azul, salvo o Rio de Janeiro, Minas Gerais e o pequeno Distrito Federal.
O Brasil vermelho inclui o restante do Norte (interrompido pelo azul de Roraima) e o conjunto do Nordeste. Esse seria o Brasil da Dilma, enquanto o outro, o de Serra.
É fato que Serra venceu no conjunto nos estados do Sul e em quase todos do Centro-Oeste, assim como em São Paulo e no Espírito Santo. Mas isso está longe de querer dizer muito sobre o significado da eleição.
Certamente, nada tem a ver com uma tese muito cara a alguns analistas, segundo a qual Dilma deveria sua vitória ao “Brasil atrasado” e ao eleitor miserável. Como esses mapas revelariam, o Brasil azul, o mais rico e moderno, preferia Serra. Foi o pobre e arcaico, o vermelho, que impediu que ele se tornasse presidente.
Essa visualização da eleição corrobora, assim, uma visão dualista e preconceituosa, muito frequente na mídia e em parte da opinião pública. Nela, a derrota do azul pelo vermelho viria da mistura de paternalismo e demagogia promovida por Lula e sustentada pelo Bolsa Família. Os mapas coloridos seriam a evidência de que sua estratégia foi bem sucedida, apesar de imoral.
Quem considera os números da eleição vê outra realidade. Dilma não venceu “por causa” do Nordeste e do Norte. Ela venceu porque venceu nos “dois Brasis”.
O modo mais imediato de mostrar isso é comparar o voto que ela obteria se fossemos (como alguns até desejam) dois países: o Brasil sem o Nordeste e o Norte, e o Brasil por inteiro. Nessa hipótese, como seriam os resultados?
Ao contrário do que certas pessoas imaginam, Dilma teria sido igualmente eleita se o Nordeste e o Norte não votassem. Ela não “precisou” do Brasil mais pobre para vencer.
Somando os votos do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste, Dilma derrotou Serra. Ou seja: o predomínio da cor azul nessas regiões é verdadeiro, mas encobre uma realidade mais importante. Serra foi bem votado nesse conjunto de estados, mas perderia assim mesmo.
É com interpretações e versões que se conta a história de uma eleição. E é necessário evitar que prevaleça, a respeito das eleições presidenciais de 2010, uma versão que reduz seu significado e que não é verdadeira.
Dilma se elegeu com o voto de pessoas de todos os tipos, desde os eleitores mais humildes do interior e das cidades pequenas, até os setores mais educados e modernos de nossa sociedade, que vivem em metrópoles ricas e avançadas. Seu desempenho, segmento por segmento do eleitorado, não foi homogêneo (como não foi o de Serra), pois em uns ela se saiu melhor que em outros. Mas isso não invalida que sua candidatura tenha sido amplamente apoiada nos estratos de educação e renda elevados, como mostravam as pesquisas.
Mapas coloridos podem ser bonitos, mas, às vezes, mais atrapalham que ajudam.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

IMPRENSA - DEPENDÊNCIA

A oposição desde o início, ainda no ano passado, pensava em pautar a discussão da campanha eleitoral nas questões da corrupção, idéia abortada quando surgiu o escândalo no Distrito Federal, com o governador Arruda, do DEM, filmado recebendo dinheiro de empresas contratadas pelo governo, juntamente com inúmeros deputados distritais.
O problema maior que a disputa eleitoral trouxe para estas eleições foi a falta de programa da oposição, que apelou para as acusações, respaldada pela midia que apoiou José Serra.
O governador de São Paulo Claudio Lembo, do DEM, declarou mêses atrás "quando a mídia escolhe apoiar uma candidatura causa intranquilidade", perguntado sobre quem a mídia estaria apoiando, respondeu "Serra".
Quando Lula queixou-se da imprensa que estaria fazendo uma campanha aberta contra a candidata do governo, os jornalistas, a OAB, queixaram-se de que desejava acabar com a liberdade e que não fossem relatados atos de corrupção.
Mas "O Globo" colocava na página destinada às "Eleições", "Erenice vai depor...", "Os filhos de Erenice receberam...". O que isto tem a ver com eleições? É caso para a pagina policial.
Quando o PSDB, vejam "PSDB", acusou Paulo Preto de ter desviado 4 milhões da verba destinada a campanha de Serra/PSDB/DEM/PPS, Serra não respondeu à Dilma no debate eleitoral e no outro dia ao ser questionado por jornalistas disse que era algo falso, levantado por Dilma para que eles perguntassem sobre o assunto   "(Paulo Preto e os negócios em família
Posted: 29 Oct 2010 03:59 PM PDT
Paulo Preto e os negócios em família
Empresa de transportes criada pelo genro e pela mãe do ex-diretor do Dersa alugou guindastes às empreiteiras que construíram o rodoanel paulista

Alan Rodrigues, Claudio Dantas Sequeira e Sérgio Pardellas
À medida que são esmiuçados os passos de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, nos subterrâneos do governo tucano, vão ficando cada vez mais claras as relações comprometedoras do ex-diretor do Dersa com as empreiteiras responsáveis pelas principais obras de São Paulo. Em agosto, quando trouxe a denúncia formulada por dirigentes do PSDB do sumiço de pelo menos R$ 4 milhões dos cofres da campanha de José Serra à Presidência, ISTOÉ revelou que a maior parte da dinheirama fora arrecadada junto a grandes empreiteiras responsáveis pela construção do rodoanel. Agora é descoberto um elo ainda mais forte entre o engenheiro e as construtoras da obra, considerada uma das vitrines do governo tucano em São Paulo.)"

Se colocavam o caso Erenice na página de eleições, deveriam colocar o caso de Paulo Preto também, mas nós entendemos que nenhum dos assuntos era de eleição, era caso de ser anexado à página policial.
Em "O Globo" de ontem temos diversos exemplos da parcialidade da imprensa, já que os jornalistas das organizações Globo não demonstram independência, exemplo da psicanalista que escreveu uma matéria que não correspondia aos interesses do PIG, ao qual "O Globo faz parte, foi sumariamente demitida.
João Ubaldo Ribeiro diz "nenhum dos candidatos ofereceu uma visão de futuro, um projeto". Ora, Dilma apresentou o seu programa, com 13 itens e, principalmente, sempre disse que seria a continuidade do governo Lula, de sucesso.
Serra é que não apresentou programa porque qualquer coisa que falasse Lula já vinha fazendo, então sua campanha baseou-se na tentativa de desconstruir a imagem de Dilma, através de uma campanha caluniosa, na mídia e na internet, levantando as questões do "sigilo fiscal" e do aborto, mentiras que o povo não engoliu.
A coluna de Merval Pereira/DEM/PSDB em "O Globo" de 31/10 diz que "o presidente eleito hoje terá pela frente como uma de suas tarefas inevitáveis desarmar os espíritos radicalizados nesta eleição como há muito não se via neste país, mais precisamente desde a eleição de 1989...
No processo que se encerra hoje, quem radicalizou foi o Presidente Lula..."
Se o Presidente Lula não participasse da campanha de Dilma, se contrapondo a esta mídia de direita sem vergonha que temos em nosso Brasil, Serra ganharia facilmente a eleição, em cima de calúnias e mentiras.
Critica em sua coluna a baixa qualidade da educação, igualmente a falta de infraestrutura e saneamento, como se isto fosse só problema a que Lula deveria responder. E no governo FHC isto não foi problema?
Fala da alta carga tributária do País, uma das maiores do mundo, como se isto só acontecesse agora, não acontecia nos governos anteriores, com a diferença de que Lula destinou verbas grandiosas para a defesa da população que vivia em situação de miserabilidade.
Fala da necessidade de alternância de poder, com o que concordamos, mas quando a eleição de um candidato significa mudança para melhor, no caso atual seria a volta de uma politica que não deu certo com FHC, no que Serra seria diferente?
O editorial de "O Globo" diz "estratégia lulista do plebiscito ajudou a empobrecer o embate". Ora, o que empobreceu o embate foi o radicalismo da oposição que, na falta de propostas caluniou e mentiu.
Um dos principais defeitos desta direita raivosa é a soberba, acham que sabem mais do que todo o mundo, exemplo é o que escreve Claudio Salm, professor do Instituto de Economia da UFRJ, dizendo que Lula seria imaturo. Imaturo? Um cara que é bem avaliado por 80% da população brasileira? Nem o senhor, professor, tem 80% de avaliação positiva em sua sala de aula.
Ontem, por ocasião da apuração, estavam comentando na TV o Senador Álvaro Dias e o jornalista Demétrio Magnoli. Ambos dissertavam sua irritação com os institutos de pesquisa, que estariam errando vergonhosamente, induzindo o eleitor ao êrro, faltando cerca de 30 % dos votos a serem apurados.
Tiveram que engolir a crítica porque nos votos que faltavam Dilma aumentou a diferença e os institutos acertaram o prognóstico, praticamente iguais.
A imprensa reclama preventivamente da ameaça que estariam recebendo de fiscalização, dizendo-se independente, mas discordamos desta "independência", prova maior foi a demissão da psicanalista Rita Maria Kehl, demitida sumariamente por escrever uma matéria com a qual os donos do jornal não concordavam, o que significa, só é funcionário se escrever de acordo com o pensamento do chefe.
Isto é independência?
Esta questão precisa ser discutida, um jornal que só mantém jornalistas que escrevem de acordo com sua orientação não é imparcial, muito pelo contrário.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MITO DE PAPEL

 
Sob o titulo acima o sociólogo e doutor em Geografia Humana Demétrio Magnoli escreve em "O Globo" de hoje, destilando o seu pensamento dentro daquilo que estamos acostumados a ler na mídia que domina o Brasil nos dias de hoje, apelidada de PIG por muitos leitores das mais variadas condições sociais, que não gostam da tentativa de ter seus pensamentos direcionados por interesses suspeitos.
Diz o sociólogo que "Lula, aos 65 anos, a figura que deixa o Planalto cumpre uma profecia do General Golbery do Couto e Silva, o "mago" da ditadura,segundo ele, que enxergara no sindicalista em ascensão o "homem que destruirá a esquerda no Brasil".
Sobre isto temos que discordar do doutor em Geografia Humana, em primeiro lugar porque quem iniciou o fim da esquerda no Brasil foi Fernando Henrique Cardoso, até disto ele foi capaz.
Primeiro disse que não acreditava em Deus, sentou na cadeira que pertenceria a quem ganhasse a eleição que disputou com Jânio Quadros, perdeu e depois disto "mudou" seu pensamento e afirmava crer em Deus para ganhar as próximas eleições que disputou.
Depois, no governo que conquistou como candidato do PSDB/DEM, rasgou todo o seu discurso radical de esquerda e administrou como um neoliberal, defensor do capitalismo, e na parte social não fez praticamente nada, foi um subserviente do FMI, não merecendo praticamente nenhum reconhecimento mundial, e o pouco que se diz realizado em sua administração se deve a atuação de sua esposa, Dona Ruth Cardoso.
E a tentativa da oposição de querer impor o pensamento de que Lula deve tudo ao que FHC fez é uma utopia, só eles acreditam ou fazem acreditar nisto, o povo não acredita, não adianta, é o caso daquele cara que diz "eu sou o bom", não é ele que tem que dizer, são as pessoas que o conhecem.
Diz Demétrio "Lula foi o expoente do novo movimento sindical aos 30, líder de um partido de massas aos 40, presidente salvacionista aos 60 e virou mito aos 65, no entanto feito de papel. Vive nos ensaios dos intelectuais que se rebaixam voluntariamente à condição de áulicos e nos artigos de jornalistas seduzidos pelas aparências ou atraídos pelas luzes do poder". Quanta bobagem. O doutor Demétrio pensa, aliás como pensam todos os que se julgam maiores do que tudo, os mais qualificados, os mais inteligentes que só ele sabe quem esta certo ou errado, os intelectuais que declararam apoio a Dilma Roussef não merecem reconhecimento algum, desmerecendo pessoas como Leonardo Boff, Chico Buarque, Hugo Carvana, Alcione, Beth Carvalho e tantos outros.
E os jornalistas seduzidos na opinião de Doutor Demétrio? Certamente não são os que atuam nas organizações Globo, no Estadão (veja-se o caso da demissão vergonhosa de Maria Rita Kehl), na Folha de São Paulo, na revista Veja, porque estes, se não tiverem seu pensamento, pelo menos no que escrevem, afinados com os proprietários serão demitidos sumariamente, e os outros escrevem livremente através de seus blogs, onde não são submetidos a situações muitas vezes vergonhosa.
Diz ainda o doutor de Geografia Humana que "as águas que confluem para a mitificação de Lula  partem de dois tributários principais, o primeiro pela vertente dos intelectuais de esquerda que renunciaram às suas convicções básicas, eles retrocederam à trincheira de um antiamericanismo primitivo...".
É preciso que o doutor entenda que os intelectuais de esquerda não são, com certeza, menores do que os intelectuais de direita e que o antiamericanismo de há muito não existe mais, isto é dos tempos da guerra fria, quando os americanos apoiavam a ditadura das elites que estava para ser instalada em 1964, colocando sua 4ª esquadra em prontidão em nossas águas para qualquer eventualidade e, diga-se de passagem, atrasaram o Brasil em 50 anos.
O Doutor Magnoli, deveria pensar um pouco mais ao destilar seu repertório de ofensas à Marilena Chauí que é muito maior do que o sociólogo.
Erra novamente o sociólogo quando levanta o caso da eleição não ser definida no 1º turno, quando fala que um dos fatores determinantes do acontecido foi o ataque à imprensa independente. Mas que independente doutor Demétrio? Nossa imprensa é dependente dos donos dos grandes conglomerados midiáticos, os jornalistas do PIG, para manter seus empregos, escrevem de acordo com seus chefes ou vão para a rua.
Para terminar, a esquerda nunca governou no Brasil, a única vez em que tentou foi com João Goulart que foi cassado por acusações falsas colocadas na mídia golpista, de que o comunismo estaria tomando conta do Brasil, argumento que as elites utilizaram, na falta de outros, para dar o golpe.
FHC, como disse acima, esqueceu seu discurso radical e governou de acordo com os interesses da elite.
Lula, radical com o PT, também esqueceu seu discurso e virou o "Lulinha paz e amor" para conseguir ganhar as eleições, e não o criticamos por ter cortado as asas dos radicais, entendemos que radicalismo não leva a nada.
Mas nós encontramos, contra o pensamento de Doutor Magnoli, países capitalistas que são mais a esquerda do que países assim considerados, em alguns aspectos importantes, que defensores do capitalismo decadente como o nobre doutor, omitem propositadamente. Nos Estados Unidos o mercado de trabalho é valorizado, quem trabalha vive bem, tem seu carro e seu apartamento, o que leva a pessoas de outros países a tentar entrar clandestinamente no País, como os brasileiros assassinados lamentavelmente há poucos dias.
Na Alemanha uma pessoa que precisar ser internada em um hospital é recebida independente de ter plano de saúde ou de ter algo para dar em garantia, é tratada e depois é analisada a questão do pagamento, no Brasil morre na espera. E lá o mercado de trabalho também é valorizado assim como em todos os países capitalistas.
Para o Brasil ser um país capitalista como vocês querem apregoar, em primeiro lugar têm que pagar um salário justo.
Eu apoio um Pais em que todos tenham oportunidades, o trabalho de Dilma terá que ser "hercúleo", distribuir melhor a renda, resolver os problemas de saúde, acabar com a miséria e dar o salto para o futuro através da educação, mas sei que para a direita, isto não é prioridade.
 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MATÉRIA DE FREI BETO

domingo, 10 de outubro de 2010 - Folha de São Paulo
Frei Beto na Folha de São Paulo:
Dilma e a fé cristã.
Por Frei Beto
Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã.
Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte.
Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois,nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".
Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.
Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos.
Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo.
Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.
Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho.
É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.
Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo ; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...
Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.
Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.
Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos.
Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.
A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz. Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.
FREI BETTO, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004,governo Lula).

A GUERRA CAMBIAL (II)

                                       
                                                                       Paulo Nogueira Batista Jr.                  

            Volto à questão da “guerra cambial”. Desde que escrevi sobre o assunto nesta coluna há duas semanas, tivemos a reunião anual do FMI e do Banco Mundial, aqui em Washington. A “guerra cambial” foi intensamente discutida. Como seria de esperar, entretanto, não houve avanços em matéria de coordenação cambial ou soluções “globais”.
            A questão será retomada na reunião ministerial do G-20, na Coreia do Sul, semana que vem, e na reunião de cúpula do G-20, em novembro. Parece fácil prever: haverá calor, mas pouca luz.
            Os Estados Unidos continuarão praticando uma política monetária frouxa, que enfraquece o dólar. A China continuará resistindo a uma valorização substancial do yuan. Os demais países devem intensificar esforços para frear a subida de suas moedas. Formou-se um quadro de “não-apreciação competitiva”, como observou o economista americano Ted Truman.   
            Conseqüência prática: o Brasil precisa dedicar-se com urgência à definição e implementação, em nível nacional, de medidas para evitar que o país seja prejudicado por esses movimentos cambiais. O aumento do IOF de 2% para 4% nas aplicações de investidores estrangeiros em renda fixa foi uma medida correta, porém insuficiente.
            Por que o pessimismo quanto à possibilidade de uma solução global? É que as tensões cambiais têm raiz na situação dos EUA e de outras economias avançadas. Essa situação não irá mudar tão cedo. O problema central é a debilidade da recuperação, o que resulta em níveis muito elevados de desemprego.
            Nos EUA, a política fiscal não produziu os efeitos desejados em termos de reativação da demanda. Há espaço fiscal para introduzir novos estímulos, mas o governo Obama não parece ter condições políticas de seguir esse caminho. Em conseqüência, a responsabilidade de estimular a economia está recaindo sobre os ombros da Reserva Federal. A política monetária tem sido ultra-expansiva. E o banco central prepara uma nova rodada de “relaxamento quantitativo”, o que significa basicamente injeção de liquidez pela compra de títulos públicos.
            Não se espera que a expansão monetária tenha grandes efeitos sobre a demanda doméstica nos EUA. Os consumidores estão endividados, desempregados, subempregados, ou com medo do desemprego. As empresas estão com nível elevado de capacidade ociosa e nível reduzido de confiança.
            Nesse ambiente, a eficácia da política monetária depende sobretudo da depreciação cambial e seus efeitos sobre exportações e importações. A desvalorização do dólar permite que a economia americana ganhe competitividade internacional e cresça ocupando mercados no exterior ou substituindo importações por produção nacional.   
            Contudo, os demais países, a China à frente, não querem aceitar que as suas moedas se valorizem (ou seja, que o dólar se desvalorize). Pretendem preservar sua competitividade internacional e capacidade de exportar.
            O Brasil já fez a sua parte. Permitiu uma expressiva apreciação do real e desequilibrou seu balanço de pagamentos em conta corrente.
            Agora é preciso tomar providências para evitar que prossiga a valorização da moeda nacional. Isso inclui apertar a política fiscal para permitir uma queda dos juros internos, continuar acumulando reservas internacionais e adotar medidas de regulação dos fluxos de capital e de natureza prudencial na área financeira (inclusive no que diz respeito a derivativos).  
            Nelson Rodrigues dizia: “Em todo o casamento, há uma vítima; e há que se fazer todo o possível para não ser essa vítima”. Da mesma forma, pode-se dizer: em toda guerra cambial há vítimas; e há que se fazer todo o possível para não ser uma dessas vítimas.     



Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.

Twitter: @paulonbjr