Economia e eleições
Paulo Nogueira Batista Jr
A força da candidatura oficial nas eleições presidenciais tem sido atribuída a muitos fatores: à popularidade do presidente da República, aos programas sociais (notadamente o bolsa-família), ao desempenho geral do governo – no qual teve destaque a ministra Dilma Rousseff – aos erros da campanha de José Serra, entre outros.
Não se pode perder de vista, entretanto, o papel da situação econômica. Desde meados do ano passado, a economia brasileira ganhou um impulso extraordinário. A expansão da atividade produtiva refletiu-se em queda da taxa de desemprego e aumento dos salários reais. A geração de empregos formais vem batendo recordes.
Em 2010, entre as principais economias do mundo, só a China e a Índia estão crescendo mais do que o Brasil. Segundo as projeções mais recentes, a China deve crescer cerca de 10% em 2010; a Índia, em torno de 8% a 9%; o Brasil, entre 7% e 8%.
Há muito tempo, a economia do país não mostrava tanto dinamismo. A crise de 2008-2009 foi superada rapidamente, graças em parte a políticas anti-recessivas. O Brasil foi um dos primeiros a sair da crise. O ritmo de crescimento atual é comparável ou até superior ao registrado no período pré-crise.
Estamos indo longe demais? É a pergunta que alguns fazem. Economistas afirmam que a economia está crescendo mais do que o seu “potencial”.
Pode ser verdade, embora seja impossível estimar com precisão o potencial de crescimento de uma economia. As técnicas de estimação do “produto potencial” nunca produzem resultados inquestionáveis. As previsões baseadas nessas estimativas têm sido freqüentemente desmentidas pela realidade.
Seja como for, é inegável que o crescimento acelerado comporta riscos. Esses riscos devem ser enfrentados para que a economia possa sustentar uma trajetória de dinamismo no médio e longo prazos. (E desculpe, leitor, a homenagem ao Conselheiro Acácio.)
Um desses riscos é a inflação, como se sabe. Uma economia muito aquecida pode levar a pressões sobre os preços pelo lado da demanda. O risco não pode ser desprezado, mas não parece muito alto na atual conjuntura.
Segundo levantamentos do Banco Central, as expectativas de inflação convergem para cerca de 5% em 2010 e 2011, um pouco acima do centro da meta oficial. As estimativas de tendência da inflação (a chamada inflação subjacente), calculadas pelo Banco Central, também apontam para 5% ou um pouco menos nos doze meses até agosto. O índice de difusão do IPCA (a proporção de itens com variação positiva) diminuiu em junho e julho.
As medidas tomadas pelo governo no período recente parecem ter contribuído para reduzir o risco de aceleração da inflação. A maior parte dos estímulos adotados para tirar a economia da crise já foi removida. Houve forte aumento da taxa básica de juros desde abril. Os efeitos desse aumento ainda não se fizeram sentir integralmente, segundo o Banco Central.
Outro risco, esse talvez mais importante, é o impacto do crescimento acelerado sobre a posição externa da economia. A expansão da demanda interna está levando a forte aumento das importações e pode contribuir para o redirecionamento de exportações para o mercado interno aquecido.
Esse risco é ampliado pela conjugação de expansão da demanda interna com câmbio valorizado. A força do real ajuda a segurar a inflação, mas contribui para estimular importações e solapar a competitividade das exportações brasileiras.
Por esses motivos, o déficit das contas externas correntes tem aumentado rapidamente desde o final do ano passado. Calcula-se que o desequilíbrio em transações correntes possa alcançar US$ 50 bilhões em 2010 e US$ 60 bilhões em 2011.
Esse desequilíbrio não constitui ameaça imediata, mas terá de ser contido se o país pretende continuar crescendo com segurança.
Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.
E-mail: paulonbjr@hotmail.com
Twitter: @paulonbjr
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