Quem teme o crescimento
Coluna Econômica - 06/12/2011
Dia desses mantive uma discussão pelo Twitter com um competente jornalista econômico, dos poucos que dominam os números e as estatísticas sobre opinião pública.
Dizia ele que as medidas tomadas na semana passada – de estímulo ao consumo – visavam as eleições de 2012. Rebati sustentando que o objetivo de toda política econômica é o desenvolvimento com qualidade de vida. É algo que interessa a todos e, justamente por isso, tem reflexos nas eleições. Essa é a riqueza da democracia: governos que não conseguem produzir crescimento e bem estar são substituídos.
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Mas qual a razão dessa resistência contra toda forma de estímulo ao crescimento?
Uma delas tem a ver com a sustentabilidade. Muitas vezes, na ânsia de produzir crescimento a qualquer custo, governos costumam tomar medidas inconsistentes, que acabam resultando em inflação. Na literatura política define-se como populismo medidas que visam trazer bem estar imediato à população, à custa do desarranjo da economia.
O final do Plano Cruzado foi um evento traumático, que marcou a vida do país nas décadas seguintes. A partir daí, qualquer medida que visasse estimular o consumo, qualquer gasto social, qualquer decisão beneficiando o conjunto da população era jogada na vala comum do “populismo”.
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Mas nas últimas décadas, a paranoia contra o crescimento teve outras razões. A herança do Cruzado foi apenas o álibi.
Taxas de juros elevadas permitiram a maior transferência de renda da história.
A neura contra crescimento, no fundo, escondia a estratégia de manter os juros permanentemente elevados. Se a economia caía, caía a arrecadação e reduzia o superávit fiscal. A solução proposta: aumentar os juros. Se a economia se aquecia, sustentava-se que havia um PIB potencial a partir do qual não se poderia crescer sem gerar inflação. Solução: aumentar os juros.
Havia diversas maneiras de desaquecer a economia sem recorrer aos juros. Mas o enfoque da confraria da Selic – que ditou os slogans econômicos dos últimos anos – era exclusiva nos juros.
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Esses analistas não são contra o crescimento. Se pudesse crescer e manter juros elevados, seriam a favor. São a favor de juros altos. O não-crescimento é apenas uma derivada desse objetivo inicial.
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O fantasma da inflação pré-Real manteve manietados dois governos – FHC e Lula. O governo Dilma definiu como meta derrubar os juros, mas o faz lentissimamente, não aproveitando a enorme janela de oportunidade aberta pela crise mundial.
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Outro subproduto, herança especialmente dos tempos inflacionários, foi a premissa de que só era virtuosa a medida econômica que penalizava o cidadão. Havia nessa visão um pouco da formação religiosa e muita malícia financista.
A história da “lição de casa” foi brandida sucessivamente por Pedro Malan, Antônio Palocci, Henrique Meirelles
Parte dessa crença se consolidou no Plano Cruzado, conforme foi dito. Mas a inflação produzida por Maílson da Nóbrega, em sua gestão, se deveu exclusivamente à escandalosa medida que permitia conversão de dívida externa em cruzados.
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Na medida em que a inflação vai se tornando um fantasma superado, esse discurso se esvaziará e se constatará que crescimento com bem estar deve ser objetivo da política econômica em todos os anos.
FOCUS: Mercado estima PIB menor em 2011
A estimativa de analistas do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2011 apresentou uma leve redução, segundo o relatório Focus, elaborado pelo Banco Central. O PIB (Produto Interno Bruto) foi ajustado pela segunda semana, de 3,10% para 3,09%, ao passo que a variação para 2012 subiu de 3,46% para 3,48%. Para o dólar, a estimativa subiu de R$ 1,75 para R$ 1,79, enquanto a previsão para o superávit comercial em 2011 avançou de US$ 28,22 bilhões para US$ 28,7 bilhões.
Atividade do comércio cresce 1,5% em novembro
O movimento dos consumidores nas lojas em todo o país cresceu 1,5% em novembro, realizados os devidos ajustes sazonais, segundo a consultoria Serasa Experian. O bom desempenho do varejo no mês de novembro foi influenciado pela alta de 4,5% no movimento dos consumidores nas lojas de veículos, motos e peças no mês passado - a suspensão temporária da cobrança do IPI mais elevado sobre os automóveis importados animou o movimento dos consumidores após a queda verificada em outubro.
Brasil mantém maior desigualdade entre Brics
O Brasil foi o único país no grupo do Brics (que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul) a reduzir o abismo entre ricos e pobres em 15 anos, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Porém, a desigualdade no Brasil ainda é a maior entre os países do grupo: no país, os 20% mais pobres viram sua renda crescer em média 6,6% ao ano na década de 2000, percentual três vezes superior ao índice de crescimento dos 20% mais ricos, de 1,8% ao ano.
Balança comercial começa dezembro com superávit
O superávit comercial na primeira semana de dezembro chegou a US$ 319 milhões, com média diária de US$ 159,5 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Em dois dias uteis, as exportações foram de US$ 1,785 bilhão, enquanto as importações atingiram US$ 1,466 bilhão. O saldo acumulado ao longo do ano chega a US$ 26,293 bilhões (média diária de US$ 113,8 milhões), um resultado 70,8% maior que o verificado no mesmo período do ano passado.
Uso da capacidade instalada na indústria volta a cair
A utilização da capacidade instalada (UCI) na indústria recuou 0,3% em outubro na comparação com setembro, atingindo o menor nível desde fevereiro de 2010, segundo dados com ajustes sazonais divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O setor industrial operou em outubro, em média, com 81,4% da capacidade instalada ante 81,7% no mês anterior. As horas trabalhadas foram reduzidas em 0,5% no período, enquanto o emprego aumentou 0,2% em outubro na comparação com o mês anterior. Alemanha e França defendem novo acordo do euro
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defenderam a adoção de um novo tratado para a zona do euro, que deve ser ratificado pelos 17 países do bloco em 2012. O tratado deve incluir medidas automáticas contra países que violarem regras destinadas a manter déficits governamentais sob controle, além de uma regra para que tribunais constitucionais possam verificar se os orçamentos nacionais vão no sentido da retomada do equilíbrio das contas públicas.
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